As comunidades quilombolas do Estado do Ceará foram as primeiras escolhidas para serem visitadas e ouvidas pelo Censo Demográfico 2022, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Fato este que jamais ocorreu na história do país. As visitas tiveram início no mês de agosto, mas em algumas localidades ainda aguardam os recenseadores do IBGE.
Pela primeira vez, quem reside em territórios quilombolas tem a possibilidade de fazer sua autodeclaração por meio da pergunta: “você se considera quilombola?”. Além de poder indicar o nome de sua comunidade de origem.
Antes das visitas iniciarem no Ceará, a Coordenação Estadual das Comunidades Quilombolas do Ceará (Cerquice) junto às associações, lideranças quilombolas e comunidades realizaram reuniões junto aos povos para difundirem as ações da melhor forma. Isso para desmentir falsas notícias e sanar dúvidas sobre o censo demográfico junto aos agentes do IBGE.
Representantes quilombolas destacam a importância desse momento histórico para a afirmação e reconhecimento desses povos e esperam reconhecimento e que políticas públicas cheguem aos quilombolas a partir dos dados coletados pelo Censo.
João do Cumbe, liderança quilombola do Cumbe, situada em Aracati, litoral leste do Ceará, espera que a sociedade tome conhecimento da existência das comunidades e que surjam iniciativas antirracistas através desse trabalho. “Ele [Censo] vai tirar da invisibilidade a população quilombola do Estado do Ceará, vai apresentar para a sociedade cearense onde estão as comunidades quilombolas do Ceará, quantas são, fazer um diagnóstico de cada território, de cada comunidade. Nós poderemos superar, em partes, o racismo estrutural e institucional que ainda persiste no século XXI. E que a partir do Censo, os órgãos públicos estejam mais preparados para ouvir nossas demandas, para aplicar as políticas públicas voltadas para a população quilombola, em especial a regularização fundiária”, declara.
Estudo do IBGE
O Ceará abrange 181 localidades quilombolas, conforme o mapeamento prévio realizado pelo IBGE. Sendo que, 15 destas são territórios quilombolas oficialmente delimitados, e 62 são agrupamentos quilombolas. “Estamos confiantes no trabalho feito com as lideranças, que já vem desde o ano passado, e a gente acredita que agora vai ter uma boa entrada nessas comunidades e fazer uma boa coleta, conseguindo dados fidedignos e importantes pra essas pessoas”, afirma Fábio Jota, antropólogo e analista censitário de povos e comunidades tradicionais da unidade estadual do IBGE no Ceará.
“Esta é a primeira vez que o estado brasileiro vai às comunidades quilombolas, e a gente vai poder ter uma ideia real de qual é a população quilombola brasileira. A partir deste Censo, vamos saber quais são essas comunidades; quantas famílias nelas residem, como essas famílias são, quantos filhos elas têm, qual é a idade dessas pessoas, como é o acesso delas ao emprego, à educação, ao saneamento básico, à água, como é a estrutura das casas etc”, acrescenta.
Espera por recenseadores
Apesar das visitas terem iniciado em agosto, algumas comunidades quilombolas do Ceará ainda passam por reuniões e aguardam o cadastro de novos recenseadores. É o caso do Quilombo Caetanos, em Capuan, município de Caucaia (CE), situado na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). “Recentemente tivemos que prorrogar o prazo para cadastrar mais recenseadores. A minha comunidade é uma das que ainda não recebeu a visita do recenseador do IBGE para o levantamento e mapeamento do nosso povo”, relata Cristina Quilombola, que é liderança no Quilombo Caetanos e vice-coordenadora da Cerquice. Cristina também representa o Ceará na Coordenação Nacional de Articulação de Quilombos (CONAQ).
A liderança de Caetanos reforça que na sua comunidade todos já estão cientes da relevância desse momento para os povos quilombolas. “A expectativa é grande. Estamos motivando as famílias, reforçando a importância do IBGE, e do Censo para nossa vida, para uma boa qualidade de vida e principalmente, para avançar nas políticas públicas voltadas para a população quilombola”, conta Cristina Quilombola.
Foto de capa: Divulgação/Quilombo Cumbe.
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