O documentário original Netflix Pelé (2021), que estreou no dia 23 de fevereiro, remonta a uma história para alguns já muito batida. Mas, para as gerações que não viram o maior jogador de futebol de todos os tempos em campo e que também não tem nenhuma noção do fenômeno midiático que foi Pelé, entre 1958 e 1970, pode ser um material novo.
Os fios condutores da narrativa são os feitos do craque nas Copas do Mundo, em paralelo ao contexto histórico daquela época. A partir do primeiro título no Mundial de 1958, na Suécia, o Brasil passa a se destacar no cenário internacional como um país moderno, por causa do futebol, e Pelé volta para casa consagrado.
“Ele é admitido como uma majestade para os negros e para todo mundo. Ele se tornou um símbolo de uma emancipação brasileira”, contextualiza Gilberto Gil. “Um menino pobre, da favela, se via no Pelé e queria ser o Pelé. Era a imagem mais promissora que nós tínhamos de um menino negro pobre”, avalia Benedita da Silva.
Mas isso passa a pesar sobre os ombros de Edson, quando os militares assumem o poder em 64. Aos 26 anos, quando optou por encerrar a carreira, depois de não ter conseguido jogar as duas últimas Copas, ele se vê pressionado a jogar seu último Mundial em 1970. O filme começa com imagens do estádio Azteca, Cidade do México, e Pelé se vê impelido interna e externamente a vencer.
Os depoimentos são dos seus contemporâneos ex-jogadores do Santos: Pepe, Dorval e Coutinho; ex-jogadores da seleção de várias épocas: Zagallo, Jairzinho, Rivellino, Amarildo, Paulo Cézar Lima, Brito; jornalistas: Juca Kfouri, José Trajano, Paulo César Vasconcellos, entre outras personalidades políticas. Além disso, a riqueza das imagens de arquivo, principalmente dos bastidores da concentração, criam uma ambientação perfeita para reviver aquela vitória.
O que esperar das questões polêmicas que rondam a vida do astro Pelé? A ausência de posicionamento político? O adultério? Paternidade fora do casamento? Bem, de forma curta ou prolixa todas elas foram abordadas e respondidas nas entrevistas. Ora pelo próprio Edson, ora pelos entrevistados.
Sempre Majestade
O eterno Rei do Futebol completou 80 anos em 23 de outubro de 2020. Mas, alguns ainda querem ver nele o herói nacional, o super-homem cuja única função era “deixar o povo contente” e agora o descrevem como “fragilizado”. É verdade que a imagem de Pelé se locomovendo com auxílio de andador e cadeira de rodas contrasta com o imaginário que ainda temos dele quando era jovem. Imaginário este que foi construído por propagandas da ditadura militar, na década de 1960, e que, obviamente, não corresponde mais à realidade. O filme permite que o público se encontre não com um Pelé fragilizado, mas com quem ele é agora, um homem de 80 anos, lúcido, bem humorado e que tem o direito de envelhecer.
Assista ao trailer:
Ficha técnica
Pelé
Ano: 2021
País de origem: Brasil
Gênero: documentário
Duração: 108 min
Classificação indicativa: 12 anos
Direção: David Tryhorn e Ben Nicholas
Entrevistados: Pelé, Maria Lúcia, Amarildo, Jorge Arantes, Brito, Fernando Henrique Cardoso, Coutinho, Benedita da Silva, Antônio Delfim Netto, Dorval, Jonas Eduardo, Zevi Ghivelder, Gilberto Gil, Jairzinho, Juca Kfouri, Antônio Lima, Paulo Cezar Lima, Mengalvio Figueiró, Roberto Rivellino, Mário Jorge Lobo Zagallo, Paulo César Vasconcellos, José Trajano, José Macia ‘PEPE’, Roberto Muylaert.
Produção: Kevin Macdonald
Distribuição: Netflix
Disponível: Netflix
Foto de capa: Divulgação.
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Quando criança, sonhava em ser escritora. Hoje, é graduada em Letras e Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Produtora cultural, simpática, TCC nota 10 e faz tudo.