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Jornalistas negros participaram de intercâmbio profissional nos Estados Unidos

12 jornalistas negros participaram do Programa de Liderança para Visitantes Estrangeiros Internacionais (IVLP) nos Estados Unidos, a convite da Embaixada Americana no Brasil. A jornada iniciou no dia 11 de junho e encerrou no último sábado, 25. No grupo, haviam quatro representantes do Nordeste, entre eles, a fundadora e editora do Site Negrê, Larissa Carvalho, 26. O intuito do intercâmbio foi a troca de experiências entre profissionais norte-americanos e brasileiros que têm em comum suas lutas pela igualdade racial em seus respectivos países.

O grupo dos 12 jornalistas na cidade de Greensboro, na Carolina do Norte. Foto: Arquivo pessoal.

A programação contou com diversas atividades em quatro cidades americanas, Washignton DC (capital dos EUA), Iowa city (Iowa), Greensboro (Carolina do Norte) e Atlanta (Geórgia), com paradas em instituições, universidades, veículos de comunicação e núcleos históricos que carregam a essência e da comunidade negra. Ao lado de Larissa, estiveram outros jornalistas brasileiros de diversos estados, como Amazonas, Bahia, Distrito Federal, Minas Gerais, Maranhão, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Confira a lista dos participantes

Aline Aguiar
Apresentadora e âncora de televisão da TV Globo – Belo Horizonte (MG)
Basília Rodrigues
Analista de política da CNN Brasil – Brasília (DF)
Bianca Santana
Diretora Executiva da Casa Sueli Carneiro – São Paulo (SP)
Cley Medeiros
Editor assistente do portal ACritica.com – Manaus (AM)
Edsoul Amaral
Repórter e âncora de televisão, da NSC TV – Florianópolis (SC)
Fernanda Carvalho
Repórter e âncora de televisão, da RBS TV – Porto Alegre (RS)
Larissa Carvalho
Fundadora, CEO e editora-chefe do Negrê – Fortaleza (CE)
Pedro Borges
Editor-chefe do Alma Preta Jornalismo – São Paulo (SP)
Raimundo José (Raimundo Quilombo)
Fundador e Diretor da Rádio e TV Quilombo – Vargem Grande (MA)
Rita Batista
Repórter da TV Globo – Salvador (BA)
Silvia Nascimento
Fundadora e CEO do site Mundo Negro – São Paulo (SP)
Valéria Lima
Editora do portal Correio Nagô – Salvador (BA)

Essa iniciativa da Embaixada Americana proporcionou a partilha de conhecimento também entre profissionais brasileiros dessas regiões distintas, reunindo-os em uma única jornada. E esse intercâmbio profissional, o IVLP, foi instituído pelo Departamento do Estado em apoio aos profissionais homólogos, americanos e estrangeiros em 1940.

O grupo de 12 jornalistas em visita a sede do jornal negro The Atlanta Voice, em Atlanta (Geórgia). Foto: Arquivo pessoal.

Negrê presente

O Consulado Americano explanou em detalhes os requisitos que foram decisivos para convidar Larissa Carvalho a se juntar ao grupo de 11 jornalistas brasileiros negros que embarcaram nessa viagem enriquecedora. O ativismo político voltado principalmente para a comunidade negra nordestina no Site Negrê, fundado e gerenciado por ela e também pela jornalista cearense Sara Sousa, 31, foi um ponto essencial para que a presença do Negrê fosse requerida no IVLP. Programa que há mais de 80 anos identifica jovens líderes que causam impactos positivos nas comunidades que habitam.

Além do Negrê, o Consulado também considerou valorosa as experiências profissionais encontradas na editora, como sua Coordenação de Jornalismo na TV Unifor, seu livro escrito em 2019, voltado para a temática racial, Mutuê: histórias e experiências de racismo em Fortaleza (2022), e suas vivências na África do Sul e Argentina. “Larissa é uma comunicadora dinâmica capaz de influenciar aqueles que lidera. E embora relativamente jovem, ela é focada e determinada em seu trabalho de uma forma que nos mostrou que seria ideal para este projeto de Visitantes Internacionais”, pontuou o Cônsul de Diplomacia Pública, Jeffrey Lodermeier.

Larissa relatou ao Negrê como foi a sensação de ser selecionada para um Programa tão importante como o IVLP por meio do seu trabalho. “Pra mim, foi inacreditável quando eu tive o primeiro contato com o Consulado Americano, que foi o momento em que recebi o convite para participar do programa. Pareceu surreal! Mas foi aí em que percebi a dimensão do trabalho que venho desempenhando dentro do jornalismo há anos. E mais do que nunca, percebi a dimensão, o valor e a importância do meu grande projeto profissional que é o Negrê!”.

A jornalista Larissa Carvalho, 26, na cidade de Washington DC, capital dos Estados Unidos. Foto: Arquivo pessoal.

Como mulher negra e ativista, ocupar um espaço representando a região o Nordeste é de grande valor para Larissa. “Esse programa não tem inscrição. As pessoas são escolhidas pra participarem! Todos os profissionais que foram selecionados são líderes de algum projeto ou alguma organização importante que trate diretamente de assuntos relacionados à diversidade e inclusão, impactando a população negra de forma direta por meio da comunicação e do jornalismo. Então, representar o Negrê nesse intercâmbio profissional é gratificante demais pois eu não estou aqui só por mim mesma e sim por todos que fazem parte do Negrê. Quanto orgulho, quanta honra! Eu fico até sem palavras pois a experiência foi muito gratificante”.

Representatividade nordestina

Outra profissional convidada, a jornalista e editora do portal baiano Correio Nagô, Valéria Lima, 36, também seguiu nessa trajetória pelos Estados Unidos, e ao ser entrevistada pelo Negrê afirmou que o intercâmbio fez com que os jornalistas brasileiros pudessem conhecer uns aos outros e o trabalho uns dos outros, além de construir uma rede de jornalistas negros no Brasil um pouco maior. “Poder fazer essa troca com os outros estados fortalece muito o nosso trabalho”, comenta.

A jornalista Valéria Lima, 36, na cidade de Washington DC, capital dos Estados Unidos. Foto: Arquivo pessoal.

O percurso traçado pelo grupo amplia a visão das lutas, histórias e narrativas negras americanas e, nesse trajeto, é possível perceber semelhanças entre as batalhas travadas no Brasil e nos Estados Unidos, inclusive na busca pela ascensão profissional na área da comunicação, em ambos os países. “Quando a gente vê de longe, vê de fora, a gente tende a achar que as coisas aqui [nos EUA] são mais fáceis. A gente percebe vários problemas com relação aos profissionais negros em todos os veículos. As realidades, as demandas, as lutas e as dificuldades são muito parecidas aqui”, acrescenta Valéria.

Um jovem empreendedor e comunicador social do Maranhão, Raimundo José, 28, mais conhecido como Raimundo Quilombo, membro do Quilombo Rampa em Vargem Grande (MA), usa seu trabalho como meio para contar a história quilombola a partir das vivências dessa comunidade e de seus indivíduos. A presença do comunicador social, traz representatividade a sua e outras comunidades quilombolas, que são tão invisibilizadas no Brasil. “É uma alegria representar jovens quilombolas, e me dá muita força para continuar esse trabalho e oportunizar outros jovens quilombolas a contar sua história”. É o que considera Raimundo.

Raimundo Quilombo, 28, na cidade de Greensboro, no estado da Carolina do Norte. Foto: Arquivo pessoal.

Raimundo também conta o quão significativo e relevante são as experiências e vivências nessas duas semanas de viagem pelo território americano, observando e trocando saberes com especialistas e profissionais que comunicam suas lutas por equidade racial por meio de seu trabalho. “É muito interessante fazer essa relação entre a luta contra o racismo no Brasil e nos Estados Unidos, e também uma oportunidade muito grande de somar forças com outros brasileiros pretos. Como a gente sempre diz, é uma oportunidade de não dar voz a nossa comunidade, mas fazer com que essa voz ecoe e seja ouvida”.

Raimundo Quilombo durante o feriado do Juneteenth em Greensboro. Foto: Arquivo pessoal.

O IVLP, estreitou relações entre os profissionais negros do Brasil que atuam no ramo da comunicação e criou pontes entre narrativas americanas e brasileiras, ao realizar uma imersão na cultura afro-americana e permitir trocas de histórias desses profissionais. Mais do que agregar conhecimento, os 12 jornalistas selecionados tiveram também a oportunidade de celebrar um feriado de extrema importância para o povo negro nos Estados Unidos, o Juneteenth, que reconhece o dia da libertação final dos escravizados americanos, decretada em junho de 1885. 

Foto de capa: Arquivo pessoal.

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