Rio Grande do Norte Som de Preto

Justiça de Xangô em lançamento do rapper Cafuzo da Baixada na cena musical de RN

Da quebrada da zona Oeste da capital potiguar, Natal (RN), com a ousadia e espírito de guerreiro de um filho de Xangô, o rapper Cafuzo da Baixada, 30, traz para cena do rap e funk nordestino e nacional o lançamento potente da música Som de Quebrada na última terça-feira, 3. Com ginga e malandragem, bate de frente com a realidade da necropolítica local da cidade de Natal.

Além de subverter a representação colonizada das periferias, trás o que de melhor se encontra na margem: fé, alegria, talento e garra para se reinventar e sambar no jogo da sobrevivência.

Baixa do cão, comunidade localizada no bairro Cidade nova, um dos bairros classificados no mapa de homicídios da cidade de Natal, que, assim como muitas quebradas espalhadas pelo mapa do nosso país, é vítima da guerra do crime organizado, financiada pela milícia racista presente na Capital. O que ameaça, assim, os quilombos urbanos que se articulam nesses territórios marginalizados. Mas é diante dessa realidade que o trampo do MC potiguar te convida a fazer uma travessia pelas possibilidades ancestrais. Com o axé dos mais velhos e dos mais novos, reconstrói e reformula os sentidos e prazeres de vida para a população negra e cabocla da comunidade.

Foto: Emanoel Fernandes (Emanuismo).

De cabelo na régua, corrente de prata no pescoço, ferro na cinta e camisa de time, jovens negros ostentam sorrisos e contrariam as estatísticas, se autodefinindo, formando famílias e protagonizando um movimento sociocultural. É através da cultura de rua, do rap e do funk que se constroem performances potentes e decoloniais em corpos pretos e periféricos. Corpos que, com sua existência, gritam arte e ancestralidade.

Foto: Emanoel Fernandes (Emanuismo).

A lírica de Som da quebrada, carrega a vivência do MC, que assim como Xangô é o senhor da justiça segue construindo um legado de luta, denúncia e libertação. A música denuncia o racismo estrutural que rouba sonhos da juventude negra todos os dias no bairro Cidade Nova. E, para além da denúncia, a composição traz o poder do atabaque no beat e a mensagem certeira que firma um futuro, onde há expressão!

E o que me encantou profundamente em todo trabalho da música e do audiovisual, foram as representações e expressões dos próprios moradores da comunidade, enquanto sujeitos que produzem seu próprio reconhecimento. Enquanto sujeitos que amam o que enxergam no espelho e na selfie do celular, que demonstram afetos entre si, dançam e sorriem. Além de desenvolverem em pequenas expressões diárias, uma abertura de caminho na afirmação da humanidade deles próprios, sujeitos que foram precarizados pela história.

O compromisso que o rap e o funk assumem com o avanço das ruas e com a classe trabalhadora presente nesses quilombos urbanos é de uma importância essencial. Pois além de preservar a cultura ancestral dos mestres de cerimônia que, com a cultura oral registram a história, educam crianças e jovens que vivem na margem e buscam inspiração e história para firmar seus passos.

“É som de perifa sem vacilação”, que trás o proceder das ruas, afirmando o corre no verso “No dia a dia a batalha é dura, fim de semana é só diversão”. O trampo “Som de Quebrada” foi produzido pelo beatmaker e produtor musical @dkbeats, o audiovisual produzido pela NAVnoar (@navnoar), e contou com a fotografia de @emanuismo.

Para conferir o trabalho de Cafuzo da Baixada (@cafuzodabaixada) e da cena periférica do hip-hop de Natal na íntegra clica no link abaixo e assista o trampo dessa equipe que se garantiu.

Confira o clipe:

Bora fechar a ideia certa comigo, de que “o futuro é ancestral” (frase da Katiúscia Ribeiro) e vem das ruas nordestinas.

Axé,

Mônis de Lima.

Foto de capa: Emanoel Fernandes (Emanuismo).

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