Mundo

Lewis Hamilton: a voz da luta antirracista na Fórmula 1

Atualizada às 21h36 de 27 de julho de 2020

O hexacampeão mundial de Fórmula 1, Lewis Hamilton, 35, é considerado um dos maiores pilotos do esporte atualmente. Ele também conquistou marcas importantes, como o maior número de pole positions (90), superando Michael Schumacher (68) e Ayrton Senna (65). Além disso, este ano, pode alcançar o número de troféus levantados de Schumacher, que venceu o campeonato mundial da F-1 sete vezes.  

Piloto, ele é o primeiro homem negro da história da Fórmula 1, desde a sua criação em 1950, a disputar corridas na modalidade. Sua primeira vitória da carreira foi no Grande Prêmio do Canadá em 2007, aos 23 anos. Já o primeiro título mundial foi em 2008 no Grande Prêmio do Brasil. Na época, o britânico integrava a equipe da Mclaren. No entanto, são por outros fatores que Hamilton tem se destacado neste momento.

Desde a morte de George Floyd (1973-2020), homem negro brutalmente assassinado por um policial branco,que o asfixiou ao ajoelhar-se em seu pescoço, Hamilton tem se posicionando fortemente na luta antirracista e cobrado dos pilotos e da Fórmula 1 uma postura combativa sobre a questão. 

Em um post em seu perfil no Instagram, antes do início da nova temporada, paralisada por conta da pandemia da Covid-19, Lewis criticou seus companheiros de corrida. Já que eles não estavam demonstrando interesse em combater o racismo e também questionou o posicionamento da F-1. “Alguns de vocês são as maiores estrelas e ainda assim ficam calados no meio da injustiça. Sou um dos únicos negros lá e estou sozinho”, disse ele em sua postagem. 

Competição

No Grande Prêmio da Áustria, no dia 5 de julho, que marcou o início da temporada 2020, antes da corrida os 20 pilotos do grid estavam vestindo camisas pedindo o fim do racismo. Hamilton usou uma com a frase “Black Lives Matter” (Vidas Negras Importam). Em seguida, em protesto, ajoelhou-se e foi acompanhado por alguns dos automobilistas. 

Lewis pontuou, após a corrida, a importância do momento para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Também destacou que foi um capítulo emocionante para tornar a Fórmula 1 um esporte mais diverso e inclusivo. “Eu quero um futuro melhor para as próximas gerações. Há muito a ser feito. Ninguém é perfeito, mas se todos fizermos nossa parte, podemos ver a mudança. Eu realmente acredito nisso”.  

Realidade e visões

A história da Fórmula 1, considerada um dos esportes mais caros, é marcada por ser uma modalidade classista e de homens brancos. Lewis Hamilton foi o primeiro piloto negro a disputar corridas, porém na memória da F-1, o estadunidense, Willy T. Ribbs, 65, foi o primeiro negro a pilotar um carro, em dezembro de 1985. 

As manifestações antirracistas do hexacampeão, provocaram reações adversas em ex-automobilistas. O italiano Mario Andretti, 80, apontado como um dos maiores pilotos da F-1, campeão em 1978, em entrevista ao jornal chileno El Mercurio, disse que Lewis sempre foi aceito por todos e que não é preciso que se torne um militante. Declarou também que não é eficaz misturar política com esporte. 

O britânico tricampeão mundial da Fórmula 1, Jack Stewart, 81, disse a uma tv britânica que o problema do racismo não é tão grande quanto parece ser e que não há resistência por mudanças por parte da F-1. 

Em resposta, o hexacampeão manifestou desapontamento por estas declarações. Para ele, falta o reconhecimento sobre a questão do racismo na sociedade. “Infelizmente, é uma realidade que algumas gerações mais antigas, que ainda têm voz, não conseguem reconhecer que há um problema. Isso é pura ignorância, mas não vai me impedir de continuar a pressionar por mudanças. Nunca é tarde demais para aprender”, enfatizou.

Lewis Hamilton é uma das vozes antirracistas na Fórmula 1. Foto: Dan Istiene/Getty Images.

De acordo com o piloto britânico, ele tentou se posicionar publicamente em 2016, após os protestos do ex-jogador da National Football League (NFL), Colin Kaepernick, 32, então quarterback do São Francisco 49ers. Em protesto contra o racismo nos Estados Unidos, passou a se ajoelhar durante a execução do hino do país antes das partidas. Em uma das corridas, para demonstrar apoio, Hamilton usou um capacete vermelho (cor do time de Kaepernick) com o número que o jogador utilizava. Ele afirmou que foi silenciado naquele momento. “Me disseram para não continuar, para não apoiá-lo, senão eu iria me arrepender”, revelou.

Descaso 

Atualmente, o integrante da Mercedes, vem criticando a desmobilização em torno da luta antirracista na Fórmula 1. Depois das manifestações no início da temporada, o piloto não considera que tem apoio dos seus companheiros de esporte e nem da própria F-1.

Após vencer o Grande Prêmio da Hungria no dia 19 de julho, ele apontou que o tema não está sendo levado a sério. “Talvez haja pessoas que não tenham crescido em meio a esse problema e não entendam. Há quem pense que por isso não os afeta. Eu já ouvi esse comentário: isso não me afeta, por que devo fazê-lo?”. 

Ele também passou a pedir para F-1, um cronograma maior para poder se manifestar e cobrou uma plataforma melhor para as mensagens antirracismo. “A F-1 fez um trabalho ok, eu diria, na primeira corrida. Não foi bom suficiente em termos do que se vê em outros esportes, mas ainda foi um passo à frente”, constatou.

Para ele, não houve progresso sobre o tema da diversidade na F-1, exceto na conscientização dos pilotos. “Eles ficam falando que estão lutando pela diversidade, mas não estão dando a plataforma para que nós façamos”, ponderou. 

A categoria criou a campanha “We race as one” (Corremos como um) e os pilotos têm entrado no grid com a camisa “End racism” (Fim do Racismo). Porém o número de automobilistas ajoelhados, em apoio, diminuiu. Para Lewis muitos deles parecem achar que ao terem protestado uma vez não precisarão fazer de novo. “Gastei muita energia na Áustria tentando convencer alguns pilotos. Mas o que importa é quem está fazendo e apoiando. Meu sonho é ver todos juntos, ajoelhados na frente do grid, mostrando que estamos unidos”, manifestou. 

Lewis Hamilton, além de poder alcançar, este ano, a sua sétima vitória no campeonato mundial de Fórmula 1, conquistou o direito de não se manter calado diante as estruturas racistas presentes na sociedade. Esta posição que o piloto britânico encontrou, aos 35 anos, correndo pela equipe Mercedes, ele conseguiu após ganhar notoriedade na modalidade, por ser um dos maiores atualmente. E parece ser apenas o começo.

Foto de capa: Reprodução/Instagram. 

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