Hoje eu gostaria de falar sobre felicidade. A felicidade que é o meu direito e que também é o seu direito, preta. Jamais se esqueça. Como já dizia mesmo Beyoncé na música Black Parade (2019): “A felicidade negra é seu direito”. Para todas as mulheres negras, sejam elas de pele clara ou escura, eu gostaria de dizer que a felicidade é o seu direito sim. E que você não deve nunca abrir mão disso.
Durante muito tempo, eu pensei que não ia nunca conseguir ser feliz. Não que eu esteja plenamente feliz no momento agora em que escrevo este artigo. Ou que tenha realizado todos os meus sonhos pessoais e profissionais e alcançado todos os meus objetivos da vida. Não é sobre isso e nem será. Mas que eu posso ser feliz com o que eu sou, com a minha essência, por ter a mim mesma, por entender a potência da minha existência.
Durante muito tempo, eu pensei que o sistema sempre ia dar um jeito de destruir a minha felicidade e, consequentemente, a minha vida. Não que o mundo girasse em torno de mim, mas que é preciso ter consciência de que o sistema racista foi pensado para ceifar vidas negras, incluindo a minha e a vida de todas as mulheres negras. E eu tenho consciência que a minha existência nem sempre foi e será bem-vinda em vários espaços.
E quando se tem consciência dessa não-aceitação da nossa existência e dos nossos corpos em diversos locais, muitas vezes privilegiados e de poder, nós sabemos que estamos incomodando. Não só a nossa presença como a nossa felicidade. Quando você está plena e consciente de que você é e pode ser feliz, pode sim acontecer ou aparecer algo que vai tentar destruir isso. E você precisa usar a sua potência para se proteger e construir escudos de todos esses males e essas armadilhas.
A felicidade como revolução
Há uma frase da Juliana Borges que diz: “Uma mulher negra feliz é um ato revolucionário”, que vem do movimento #AgoraÉQueSãoElas. Eu lembrei dessa citação e decidi postar num storys do Instagram ao compartilhar a foto de uma mulher negra sorrindo. Então, uma grande amiga negra me enviou uma mensagem no Whatsapp, dizendo: “Eu vi o storys que você postou. Fiquei feliz de ver você falando de felicidade“. E eu que não esperava isso, fiquei feliz de alguém ter ficado feliz sobre eu ter falado de felicidade.
A verdade é que não importa onde você esteja, muitas vezes com quem esteja e o que esteja fazendo, o mundo e o sistema parecem que sempre vão dar um jeito de querer pisar no terreno da sua felicidade. É como se fosse uma semente que nunca fosse germinar, crescer e florescer. É como se sempre algo te puxasse para o buraco e para a pulsão de morte. E é aí que não podemos deixar de brigar e lutar pela nossa felicidade. Nunca. Ela é nossa responsabilidade, ela é nossa missão, ela é nosso propósito.
Por muito tempo, eu acreditei na falsa ideia de que eu não conseguiria ser feliz caso algo estivesse me atrapalhando ou me prejudicando a todo custo. Mas a verdade é que sempre terá algo para nos atrapalhar e prejudicar. Não esqueçamos que somos mulheres pretas e o sistema foi feito para nos destruir. Ou nos fazer autodestruir. Então, o que precisamos é ter consciência disso e decidir o que fazer diante de tudo isso. Escolher pela sua felicidade, independente de tudo e dos outros, é uma forma de fazer revolução, é uma forma de existir, resistir e protestar. Por isso, não podemos abrir mão disso.
Para todas aquelas mulheres negras que têm e terão dificuldade sempre de acreditarem em si mesmas e no seu potencial, repitam sempre para si mesmas: “Felicidade é o meu direito!”. Eu vou sim ser feliz com o que tenho, com a minha potência, com o que desejo e com o que vou conquistar.
Eu vou sim ser feliz não importa o que aconteça. E, mesmo quando estiver difícil, eu vou ao menos tentar buscar essa felicidade para não sucumbir. Porque é isso o que o sistema quer, mas eu não vou alimentar isso. Porque a minha felicidade está dentro de mim; ela não está em um lugar, nem em uma pessoa, nem em um emprego, nem em um sonho, nem em uma outra coisa alguma. Ela está em mim, somente em mim.
Foto de capa: Vlada Karpovich/Pexels.
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Jornalista profissional (nº 4270/CE), preocupada com questões raciais, e graduada pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É Gestora de mídia e pessoas; Fundadora, Diretora Executiva (CEO) e Editora-chefe do Negrê, o primeiro portal de mídia negra nordestina do Brasil. É autora do livro-reportagem “Mutuê: relatos e vivências de racismo em Fortaleza” (2021). Em 2021, foi Coordenadora de Jornalismo da TV Unifor. Em 2022, foi indicada ao 16º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Jornalista revelação – início de carreira”. Em 2023, foi indicada ao 17º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Região Nordeste” e finalista no Prêmio + Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira. Soma experiências internacionais na África do Sul, Angola, Argentina e Estados Unidos.
