“Um dia, Orunmilá, desejoso de fazer uma grande plantação, ordenou a Ossaim que roçasse o mato de suas terras. Diante de uma planta que curava dores, Ossaim exclamava:
• Esta não pode ser cortada, é a erva que cura dores.
Diante da planta que curava hemorragias, dizia:
• Esta estanca o sangue, não deve ser cortada.
Em frente de uma planta que curava a febre, dizia:
• Esta também não, porque refresca o corpo.
E assim por diante. (…)
E assim Ossaim ajudava Orunmilá a receitar e acabou sendo conhecido como o grande médico que é.”
Salve! Uma história dessas nos conta muita coisa, não é? Essa história da Ossaim está descrita no livro “Mitologia dos Orixás”, de Reginaldo Prandi. Lendo pouco a pouco, aprendo mais sobre a cultura, os costumes e a mitologia dos povos originários, encantando-me cada vez mais com as lições nele descritas.
Com essa introdução, gostaria de falar com vocês sobre o conhecimento e a sabedoria do povo preto! Orunmilá é reconhecido por sua sabedoria, mas, neste conto, ele recebe assistência de Ossaim sobre o conhecimento das plantas que auxiliam nos tratamentos de quem buscava saúde. Ao ler esse texto, duas reflexões ficam bem claras em minha mente:
1- Quais as plantas (entenda planta como forma de ser útil, habilidades ou talentos) eu tenho?
2- Como eu utilizo essas plantas (transmitindo ou utilizando o conhecimento de forma prática)?
Na primeira reflexão, reconhecer alguns aspectos importantes para si, iniciando por valores, características, habilidades pessoais e o que se sabe fazer é um importante passo. Uma vez que os aspectos acima são identificados, é possível iniciar um processo de valorização pessoal transformador. Quando sabemos quem somos não é qualquer coisa que nos agrada. Por meio disso, possibilitamos a liberdade de pensar em objetivos e retornos possíveis que almejamos em nossa vida (entenda aqui que não falo de recompensas financeiras apenas, mas de benefícios ou realizações possíveis por meio do que fazemos).
Na segunda reflexão, é pensar em como utilizar essas habilidades em prol de si e terceiros como promoção daquilo que se é e se sabe. Pense comigo, para que você adquire algo? Regularmente, aquele algo tem uso, seja por conforto (um quadro pendurado na parede) ou por necessidade (uma cama), porém, vivemos em um tempo tão importante para as coisas que esquecemos que antes delas temos nossos desejos, que vão além do material, mas se fixam em nós por conta do sentido. Ele nos leva a um lugar ativo, de realizar-se por meio de nossas virtudes. E elas nos permitem viver por meio de decisões mais conscientes.
Essas duas reflexões são inquietantes e cansativas. Elas demandam atenção de quem busca respostas internas para perguntas que os testes da internet facilmente podem lhe oferecer de maneira superficial. Ossaim passou a vida nas florestas aprendendo sobre si e sobre a interação com o externo para se tornar um grande médico por meio do conhecimento sobre plantas. E você? Como anda cultivando seu (auto)conhecimento?
Foto de capa: Jessica Felicio/Unsplash.
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Psicólogo (CRP: 11/11607) e Palestrante. Um criolo cearense buscando ascensão social em massa para o povo preto. Graduado em Psicologia pela Universidade de Fortaleza (Unifor). Especialista em Psicologia Positiva. É Fundador e CEO do projeto “Por Mais Simples que Seja”. Gosto de pensar sobre a vida e conversar com pessoas sobre perspectivas de ascensão e crescimento pessoal.