A pandemia do novo coronavírus tem colocado pesquisadores do mundo todo em trabalho frenético para encontrar remédios que inibam a doença e para desenvolver uma vacina que possibilite imunidade contra ela. Com mais de 12 milhões de infectados pelo globo e cerca de 500 mil mortes, a Covid-19 tem sido um desafio aos cientistas que já testaram diversos tipos de medicamentos para o tratamento.
Uma dessas pesquisas, liderada pelo químico e professor da Universidade Estadual do Piauí (UESPI) e dos programas de doutorado em Química da Universidade Federal do Piauí (UFPI), Francisco das Chagas Alves Lima, está sendo desenvolvida no Nordeste com um fármaco à base do óleo extraído do buriti. O estudo conta com pesquisadores dos estados do Piauí, Maranhão e Pará.
De acordo com Francisco Lima, a possibilidade da criação de um inibidor ao novo coronavírus surgiu por conta da tese de doutorado de seu aluno que aponta os potenciais farmacológicos do buriti. Com base nessas informações, o professor, juntamente de sua equipe, resolveu testar as moléculas encontradas no óleo do fruto. Os resultados da pesquisa têm demonstrado eficácia no combate à Covid-19.
Processos
Na primeira etapa, testada in silico – expressão utilizada para testes computacionais -, há informações de que as moléculas isoladas do buriti não apresentam toxicidade ao organismo e têm ação antiviral. “Das nove moléculas que testamos, três entraram no sítio ativo da enzima e não saíram. E isso significa que elas matam e inibem o vírus. Essa foi a maior evidência de que estamos no caminho certo”, explicou o professor.
Segundo ele, pesquisadores chineses desenvolveram trabalho semelhante com moléculas sintéticas que também apresentaram respostas positivas. No entanto, o trabalho dos cientistas asiáticos está mais avançado devido à infraestrutura disponível em seu país.
Apesar disto, a pesquisa do Nordeste apresentou respostas mais eficientes no combate ao vírus. Porém, há dificuldades para iniciar a segunda etapa dos testes.
Francisco Lima conta que é necessário o apoio financeiro, já que todo o trabalho, com alto custo, está sendo desembolsado pela própria equipe. “Se nós tivéssemos apoio da Universidade Estadual do Piauí, apoio do governo estadual, seria mais fácil. Não temos a mínima condição de fazer a pesquisa sem dinheiro”, alertou.
O estudo foi publicado na revista científica Journal of Biomolecular Structure and Dynamics e a equipe já foi procuradora por cientistas de outros países para conversar sobre ele. Até o momento da reportagem, no site em que foi exposto, há mais de 1.100 visualizações, demonstrando a grande procura.
A próxima etapa a ser realizada é de testes in vitro (feitos em tubo de ensaio), isolando moléculas do óleo do buriti. Mas, de acordo com Lima, este processo pode ser mais demorado. O professor indicou que seria mais rápido comprá-las já nessa condição, pois também possibilita a fase de análise in vivo (em animais).
Ele aponta a importância de produzir esse testes o mais rápido possível. “Tenho grande esperança e convicção que os testes in vitro e in vivo vão mostrar a mesma eficácia dos chineses e que temos moléculas com potencial formidável”, evidenciou o químico.
Possibilidades
Outro dado que contribui com o estudo é o fato do elemento ser encontrado em outras substâncias consumidas regularmente, como cenouras e mamões, e também o fato de o buriti ser um fruto facilmente encontrado e muito utilizado nas regiões Norte e Nordeste do Brasil.
Segundo o professor, a criação do remédio também pode proporcionar mais visibilidade e gerar grande impacto econômico para as duas regiões. “A pandemia trouxe para o mundo, e em especial para o Brasil, que não se vence pobreza, não se vence o vírus sem pesquisa, educação e universidade”, ressaltou.
Francisco Lima também acredita que para o Brasil vencer o novo coronavírus é importante que pesquisadores, pessoas da área da saúde, o Poder Público e a população entendam a sua importância.