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Prêmio CUFA é criticado após demonstrar que Carrefour era patrocinador principal

Atualizado às 15h22 do dia 14/01/2021

A Central Única das Favelas (CUFA) divulgou nos últimos dias uma premiação para prestígio e incentivo de afroempreendedores; todavia, os jurados e participantes não estavam cientes de todos os detalhes sobre o prêmio. Entre eles, que a empresa Carrefour (que possui um histórico de racismo e violência) era o patrocinador master da premiação. 

Essa informação veio à tona, no último domingo, 10, quando a CUFA divulgou os vencedores do respectivo prêmio nas categorias de Cultura, Empreendedorismo, Esporte e Música. A publicação foi apagada logo em seguida e gerou inquietação e repúdio dentre jurados, empreendedores e ativistas negros. A cerimônia do prêmio foi cancelada, segundo à CUFA devido aos avanços da pandemia do Covid-19

Para surpresa e desapontamento dos integrantes do evento, na divulgação dos patrocinadores do evento, havia a logo do Grupo Carrefour, representado como patrocinador do evento. Diversas personalidades e empreendimentos relacionados ao prêmio se posicionaram contra. Inclusive, alguns pediram desvinculação e alegaram não estar cientes da participação, como a administradora e criadora de conteúdo sobre educação financeira para baixa renda, Nath Finanças.

A produtora de conteúdo audiovisual e de interações culturais inclusivas e representativas, Renca Produções também postou uma nota de escurecimento sobre o caso:

Foto: Reprodução/Instagram.

O dentista e CEO da AfroSaúde Arthur Lima também se posicionou nas redes sociais.

Fundador da CUFA se retrata nas redes sociais

O empresário Celso Athayde, 57, fundador da Central Única das Favelas, usou suas redes sociais nesta segunda-feira, 11, para se posicionar e desculpar-se acerca de ter o Carrefour como patrocinador Master do Prêmio Pretos Empreendedores.

“Um erro gravíssimo não pode justificar a falta de cuidado com os parceiros. Errei feio”, assume Celso Athayde após críticas sobre patrocínio do Carrefour ao prêmio da CUFA.

Em seu perfil no Facebook, Celso garantiu não ter agido por ‘má fé’:

“O erro só seria ainda pior se fosse algo escondido, se as pessoas descobrissem que determinados apoiadores estavam presentes sem suas marcas expostas para enganar. Mas não, no próprio domingo, dois dias depois desse pedido de apoio, nós estávamos montando as artes para subir para as redes, e site etc. E assim foi feito, enviamos com as logomarcas. Mas reconheço que o ponto não é esse. Eu afirmo que deveria mandar muito antes e se não havia tempo, então cancelasse, mas nunca seguir como foi feito. O fato é que isso não diminui em nada a gravidade do erro. Mas, ao menos mostra que não foi má fé, mas pura incompetência. No mesmo domingo à tarde, ao ser questionado por membros da equipe, percebi o erro e sua gravidade”.

#CarrefourRacista: Entenda o caso

As grandes empresas e cadeias produtivas que operam no Brasil estão intrinsecamente ligadas ao racismo no país, esse caso fica evidente e escancarado ao observar a atuação e o histórico da rede internacional de hipermercados Carrefour. 

Em 2009, há 11 anos, seguranças do Carrefour agrediram o vigia e técnico em eletrônica Januário Alves de Santana, 39, no estacionamento de uma unidade em Osasco (SP). Januário teria sido confundido com um ladrão e foi acusado de roubar seu próprio carro. 

O tempo não ensinou a empresa a ser antirracista, pois casos de brutalidade e racismo permaneceram acontecendo. Como em 2017, quando uma mulher negra, lésbica, pobre e dependente química, presa por suspostamente furtar alimentos em uma filial do Carrefour no Rio de Janeiro (RJ), foi espancada e estuprada por funcionários do supermercado.

Em 2018, Luís Carlos Gomes, homem negro e deficiente físico, foi espancado no banheiro do Carrefour em São Bernardo do Campo (SP). A acusação colocada sobre Luís, afim de justificar a violência foi: abrir uma lata de cerveja dentro da unidade.

No ano passado, dia 14 de agosto, um trabalhador terceirizado caiu morto nos corredores da loja e para não fechar uma unidade em Recife (PE), o Carrefour simplesmente escondeu o cadáver atrás de meia dúzia de guarda-chuvas abertos. E a loja continuou funcionando “normalmente”. 

E na véspera do Dia da Consciência Negra, no ano passado, dia 19 de novembro, João Alberto Silveira, 40, foi espancado até a morte por seguranças de uma unidade do supermercado Carrefour em Porto Alegre (RS). 

Na tentativa de modificar a imagem de empresa racista, o Carrefour montou um comitê antirracista para planejar ações, contando com um fundo de R$ 25 milhões. Ao que tudo indica, o Prêmio Pretos Empreendedores fazia parte dessas iniciativas. 

Até o fechamento desta matéria, a empresa Carrefour não se posicionou publicamente sobre o caso.

Foto de capa: Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil.

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