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“Não dá pra gente nivelar por baixo”, diz fundadora do Nubank sobre contratar lideranças negras

A declaração causou repercussão negativa nas redes sociais; Cristina Junqueira pediu desculpa em vídeo

Questionada sobre a contratação de negros na empresa, a co-fundadora do Nubank, Cristina Junqueira, em entrevista ao programa Roda Viva da última segunda-feira, 19, afirmou ter dificuldades de encontrar candidatos negros “adequados” para as exigências da empresa. Durante o programa, ela disse que tem investido em programas de formação gratuitos, mas que não dá para “nivelar por baixo”. 

A fala surgiu depois do seguinte questionamento da jornalista Angelica Mari, da Forbes Brasil: “Que tipo de ações afirmativas vocês estão planejando para colocar mais negros na liderança no Nubank?”. Em resposta, Junqueiro admitiu que a instituição possui problema de representatividade racial, mas destacou que sua equipe trabalha para melhorar a situação. 

“Já faz algum tempo que a gente procura [pessoas negras] para várias posições, inclusive uma vice-presidente de marketing para trabalhar comigo. Estou há bastante tempo procurando e é difícil. Recrutar Nubank sempre foi difícil”, destacou a co-fundadora. 

A jornalista ainda indaga sobre o “alto grau de exigência” no sentido de caracterizar uma barreira para as minorias. Sobre a questão, a executiva responde: “Não dá também para nivelar por baixo. Por isso, queremos fazer investimento em formação. Criamos um programa gratuito, que chama Diversidades, que vamos ensinar ciência de dados para pessoas que querem entrar nisso, e nós vamos capacitar essas pessoas”, afirmou. 

A co-fundadora do Nubank destaca também que não adianta colocar alguém que depois não vai ter condições de trabalhar com a equipe, de se desenvolver, de avançar na carreira. “Depois não vai ser bem avaliado. Daí não estamos resolvendo um problema, estamos criando outro, né?”, acrescentou. 

Repercussão nas redes

No Twitter e no LinkedIn, os internautas se pronunciaram em relação à declaração de Junqueiro no último Roda Viva. No LinkedIn, Gabriela Melo, especialista em diversidade e inclusão, escreveu sobre o assunto.

Leia um trecho: 

“A falta de representatividade no mercado fez com que as pessoas acreditassem que o Nubank era uma empresa inclusiva por ter uma mulher como co-fundadora e, mais ainda, por ela ter sido capa da Forbes enquanto estava grávida. Ter uma mulher branca como sócia é incrível, mas não é sinônimo de um ambiente diverso e inclusivo!

Diversidade vai além do recorte homem, mulher e gays. Não é porque tem mulher branca e homem gay no ambiente que ele é diverso. Também existe raça/etnia, mulheres lésbicas, pessoas trans, pessoas não binárias, com deficiência, e mais uma infinidade de interseccionalidades.

Há algumas semanas, me falaram que o Nubank era uma empresa organicamente diversa e inclusiva, pois as demandas de D&I partiam de um comitê voluntário de #diversidade. Pois bem, isso pra mim só prova que ainda existe um caminho longo pra D&I dentro daquele espaço. É legal o que está sendo feito? Com certeza. Mas ainda não é suficiente.” 

Já no Twitter, a administradora e criadora de conteúdo sobre educação financeira para pessoas de baixa renda, Nath Finanças falou sobre o ocorrido. Ela foi uma das convidadas a compor a bancada de entrevistas do programa. 

“Aliás, você sabia que esse ano o Google registrou um recorde de pesquisas pelo termo ‘racismo estrutural’?. Pois é. Se haviam diversos convidados no programa, por que o questionamento recai sobre a única pessoa negra da bancada?”, questionou.

Veja outras postagens: 

https://twitter.com/tomateness/status/1318639038560129024

Pedidos de desculpas 

Logo após a repercussão negativa da fala no programa, Cristina Junqueira publicou um vídeo no LinkedIn na terça-feira, 20, pedindo desculpas pelo ocorrido. 

“Falar de inclusão racial não é simples, principalmente como mulher branca. Na tentativa de explicar as ações de apoio educacional que temos no Nubank para diversos grupos sub representados dentro da tecnologia, acabei me expressando mal. Agradeço pelos feedbacks que estão chegando e me desculpo pela forma como falei. Como disse na entrevista, há muito o que precisamos fazer em questões de diversidade racial e esse é um compromisso que assumimos no Nubank”, afirma.

Veja vídeo com o trecho da entrevista no Programa Roda Viva

Foto de capa: Reprodução/YouTube.

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