Escrita Negra

Presente! Pra sempre!

*Manual de leitura:
Pra você ler esse texto, você precisa ir devagar e tentar ao máximo usar sua memória pra ativar cada lembrança que ele fará você ter.

Quem mora em favela, de forma direta ou indireta, vê ela toda como seu lar.
Quem não mora também, Mas quem mora, talvez sinta isso mais.
Conhecer boa parte da vizinhança,
saber o nome dos donos de mercantis e bodegas,
ter memorias em vários cantos,
lembrar de tal amigo ao passar por um beco/rua…
Tudo é muito emblemático.
É os mano do racha,
é o tio do churrascos,
os pivete que solta raia, ou viciado em free fire
a vizinha que vende marmita/pratin,
é a vózinha rezadeira,
é as cumade massa,
os elemento que taca nome,
galera do vôlei, basquete, das rimas, os rockeiro…
Por mais que não troque ideia, sabemos quem é por vista,
é o neto da dona fulana,
fih de sicrana,
ou parentes dos finados.
De qualquer forma, a favela é nossa! Assim como somos dela.
Em todo lugar sou o Michael do curió.
E sempre, quando voltando de qualquer lugar,
ao chegar perto da minha zaria, já sinto o conforto dela me abraçar,
sei que dali em diante,
tô mais seguro.
Mas em casa é que mora a alegria,
é o real conforto de relaxar,
descansar,
som alto,
comida boa,
uma boa conversa,
um bom abraço,
um bom lugar,
um bom lar,
meu lar.
E por mais que muitos se sintam a vontades dentro das suas comunidades,
casa é casa!
Protege do vento frio,
do sol quente,
da chuva,
da seca.
Casa da energia,
água,
recarrega energia,
te deixa livre pra você se desmanchar em águas.
É lugar de família,
de amigo,
de churrasco,
de negócio,
de afeto.
E no mais, dos mais significados, nos livra da violência,
barra as energias ruins,
livra de todos os maus,
é guarda baixa,
é respiração aliviada,
é muralha para os medos e para a insegurança…
Ou era pra ser assim, né?
Um lugar de descanso,
lugar pra se tirar um bom cochilo,
e até pra dormir no ápice da confiança entre quatro paredes,
uma porta,
uma cama,
e ali alguem sonha,
dorme,
relaxa,
descansa,
recarrega energia.
Homem,
jovem,
adolescente,
crianças,
menino,
tiro…
E fim.

Conte-me como você se sentiria se tivesse seu templo violado,
seu lar escancarado,
seu descanso interrompido,
um pesadelo infinito?
Bom, eu queria perguntar pro Mizael de Chorozinho, mas…
talvez, você nem lembre mais quem ele foi.
E infelizmente, a gente esquece tanta coisa
tantos ocorridos…
a semelhança de casos, torna cada caso, só mais um caso…
E assim como mantemos vivas as boas lembranças
temos como missão tornar cada nome, como esse
Presente! Para sempre!

Foto de capa: Gustavo Costa.

Compartilhe: