Saberes Sergipe

Sergipanidade: conheça algumas manifestações culturais de Sergipe

Hoje, dia 24 de outubro, é celebrado no estado de Sergipe o Dia da Sergipanidade, data que já é comemorada há mais de 20 anos e remete ao dia em que a carta régia chegou no estado, comprovando a emancipação política de Sergipe do estado da Bahia. Nesse importante dia, os sergipanos celebram e enaltecem a cultura de seu povo.

Pensando em toda a riqueza cultural presente em Sergipe, a reportagem do site Negrê separou algumas das mais importantes manifestações culturais presentes no estado, que contam um pouco de nossa história e celebram a nossa resistência nesse dia 24.

Lambe Sujo X Caboclinhos

Foto: Igor Rocha.

Uma das maiores tradições Sergipanas é a festa dos Lambe Sujos X Caboclinhos que acontece na cidade histórica de Laranjeiras uma vez por ano, sempre no segundo domingo do mês de outubro.  A festa é um espetáculo cheio de cores, sons e história na qual os moradores se vestem como negros e indígenas e saem em cortejo homenageando à resistência dos negros escravizados na região que lutavam por sua liberdade.

Tudo se inicia nas primeiras horas da manhã, quando são armados o quilombo dos negros e a taba dos índios que, tendo sua princesa roubada pelos negros, dão início as estratégias de lutas para libertá-la, enriquecendo sua dramaturgia com cantos, danças e personagens definidos.

Foto: Igor Rocha..

Os lambe sujos são pintados com uma solução de mel de cabaú extraído da cana de açúcar com pó xadrez preto. Usam bermuda e gorro de flanela vermelha e são guiados por um príncipe e pelo rei do quilombo. Já os Caboclinhos usam cocar na cabeça e pintam a pele de vermelho, eles representam os povos originários contratados pelos donos dos engenhos de açúcar para recapturar negros escravizados que fugiam.

Reisado

Foto: Igor Rocha.

De origem ibérica, o Reisado se instalou em Sergipe no período colonial. É uma dança que comemora o nascimento do menino Jesus e presta homenagens aos reis magos. O reisado, que já foi uma tradição natalina, hoje é comemorado e dançando em qualquer época do ano. Faz parte de suas características o uso de trajes de cores fortes e chapéus ricamente enfeitados com fitas coloridas e espelhinhos. 

Foto: Igor Rocha.

A cantoria começa com o deslocamento do grupo para um  determinado local, onde é cantado “o Bendito”, em louvor a Deus, para que a brincadeira seja abençoada e autorizada. A partir daí, começam as “jornadas”. O enredo é formado por diversos motivos, como amor, guerra, religião, história local, etc. Ele é apresentado em tom satírico e humorístico, originando um clima de brincadeira.

Taieira

Foto: Igor Rocha

É uma dança-cortejo onde os participantes entoam cantigas religiosas e populares, dançando e tocando instrumentos de percussão acompanhando a festa de Nossa senhora do Rosário e de São Benedito, ambos são conhecidos como os santos padroeiros negros. Assim como o Reisado a Taieira é comemorada no dia de Reis.  E registros antigos da Taieira no Brasil datam do século XVIII, por ocasião das comemorações do casamento de Dona Maria I, realizadas em 1760, em Santo Amaro, na Bahia.

A dança é executada em roda ou em duas fileiras, as dançarinas vestem blusa vermelha e saia branca enfeitada com fitas coloridas, as guias ou chefes dos cordões ou fileiras, usam uma faixa verde na cintura e outra amarela cruzando o peito (as cores são invertidas no outro cordão), pulseiras, colares, um chapéu branco com fitas e flores vermelhas, além de uma pequena cesta pendurada no braço. Já os trajes dos personagens masculinos são semelhantes, as diferenças são pequenos detalhes. Todos usam calças vermelhas, com listras amarelas na lateral e camisas de mangas compridas azuis, também com tiras amarelas.

Foto: Igor Rocha.

A Taieira possui uma coreografia simples, com passos que alternam entre mais lentos e mais rápidos sincronizados com o canto e o bater das varetas, que ocupam um lugar de destaque, não só pela frequência, como pela beleza do movimento apresentado. Durante os “combates”, as dançarinas batem ritmicamente as varetas que trazem consigo e executam movimentos sinuosos chamados de “meia-lua”.

Barco de fogo

Foto: Márcio Garcez / Divulgação

Uma das maiores tradições do São João em Sergipe vem da cidade de Estância, o barco de fogo é um artefato típico criado por pelo fogueteiro Antônio Francisco da Silva Cardoso, conhecido popularmente como Chico Surdo, por volta do final dos anos 1930. A ideia de Chico era criar um barco que não precisasse de água para flutuar, então ele construiu um barco de papelão grosso movimentando dois foguetes que deslizavam sob um arame preso em dois mastros. A tradição foi passada de pai para filho e se tornou um fenômeno na cidade. Em 2003 o barco de fogo se tornou patrimônio cultural imemorial de Sergipe e desde então a cidade de Estância ficou conhecida como a capital brasileira do barco de fogo.

Festa dos Caretas

Foto: Igor Rocha

Realizada na cidade de Ribeirópolis, a festa dos caretas é um avento anual que acontece sempre uma semana antes do carnaval. No cortejo os participantes usam máscaras logo ao amanhecer e saem em cortejo acompanhados de uma banda de pífano, fazendo a alegria dos foliões e espectadores. Alguns costumam levar tintas, o que deixa a festa mais colorida e divertida. O festejo se tornou patrimônio cultural e imaterial de Sergipe.

Parafusos

Tradição foi homenageada com estátua no Largo da gente Sergipana em março de 2018. Foto: Divulgação

O grupo cujas origens remonta o ano de 1897 faz alusão a fuga de escravos da senzala e é formado por homens vestidos de anáguas de renda branca, eles realizam movimentos em 360º sobre si mesmos parecendo a volta de um parafuso. De acordo com a história da tradição, durante o período de escravidão muitos que fugiam das senzalas faziam quilombos no meio da mata para se refugiar dos feitores e capitães do mato. Porém no período de lua cheia eles saiam para os engenhos em busca de comida e durante a volta para os quilombos pegavam roupas das sinhazinhas que ficavam penduradas em varais, elas eram feitas de renda e com muito bordado, escolhidas pelas filhas dos senhores de engenho. Os escravos pegavam todas elas e começavam a colocar peça sobre peça até atingir a cabeça. Com o corpo coberto de panos brancos, eles saiam pulando e fazendo voltas durante o luar. As pessoas que viam os escravos imaginavam serem assombrações e não tentavam recuperar suas coisas “roubadas”.

Foto: Igor Rocha.

Sergipe, que embora seja o menor estado do país, é dono de uma das maiores riquezas culturais presentes no Brasil. Seja nas comemorações que evocam memória e resistências, nas comidas típicas ou no xingamento característico da região. Sergipe é também palco de gente guerreira e sorridente e ainda é dono do entardecer mais lindo do mundo. No Dia da Sergipanidade, é importante celebrar todas as histórias e tradições que evocam beleza e força. O mercado central de Aracaju, que é palco de tanta cultura, o rio Sergipe que embeleza as ruas da cidade, o centro comercial onde se encontra de tudo e de todos. Sergipe é terra grande de gente maior ainda, mesmo que seja no menor espaço do nosso mapa.

Foto de capa: Igor Rocha.

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