Quero contar-vos histórias antigas, do presente e do futuro, porque tenho todas as idades e ainda sou mais novo que todos os filhos e netos que hão de nascer. Eu sou o destino. A vida germinou, floriu e chegamos ao fim do ciclo. Os cajueiros estão carregados de fruta madura, é época de vindima, escutai os lamentos que saem da alma.
Karingana Wa Karingana
Karingana Wa Karingana é o narrador fictício dessa história que é inspirada em fatos reais, afinal, a autora moçambicana, Paulina Chiziane, 66, faz uma narrativa do sofrimento originado pelos conflitos da Guerra Civil (1964-1974), que culminou na proclamação da Independência de Moçambique em 25 de junho de 1975, há menos de 50 anos.
Publicado em 1995, esse é o segundo romance da autora e não poupa o leitor das mazelas e sofrimento vividos pelo povo moçambicano durante os conflitos. O que gerou um cenário de violência, seca, fome e muitas pessoas acabaram desabrigadas, recorrendo aos mais diversos meios para sanar a fome, comendo aquilo que era possível e, muitas vezes, se envenenando ou adoecendo, enquanto buscavam refúgio ou ajuda humanitária.
Nosso narrador, Karingana conta a história do ex-régulo Sianga, que descontente com a Independência, arma um golpe pra tentar retomar o poder em sua região. Os régulos eram pessoas – sempre homens –, designados pelo colonizador Portugal e eram responsáveis pela tribo; uma espécie de chefes que reportavam tudo aos portugueses. Descontente de perder o posto, as riquezas e os privilégios que vinham da ocupação e, ao mesmo tempo, de perder suas esposas por ter se tornado um homem pobre e comum, Sianga iniciou o golpe.
Paulina Chiziane narra a luta do povo pela sobrevivência, migrando de lugar em lugar para fugir da violência iniciada pelo golpe. A autora nos apresenta aos diferentes personagens que estão seguindo o mesmo caminho, a mesma trajetória em busca da aldeia chamada Monte, onde muitos se refugiaram. Um dos refugiados é Minosse, a única mulher de Sianga que permaneceu ao seu lado, mas perdeu tanto o marido como os filhos durante o golpe e precisa reconstruir sua vida.
Pelo caminho eles seguem sofrendo as mazelas até chegar ao Monte, onde tentam recomeçar a vida, reconstruir relações, criar plantações e voltar a se alegrar com a vida.
Paulina Chiziane prende o leitor, que fica instigado a entrar na história real da Independência de Moçambique, tão recente e acaba reconhecendo ali tantos outros conflitos por independência que aconteceram em países do Continente Africano e foram tão violentos, sangrentos e sofridos para a população.
Sobre a autora
Paulina Chiziane nasceu em 4 de junho de 1955 em Manjacaze, Gaza (Moçambique). A escritora atua nos gêneros literários de conto e romance e teve influências do movimento literário do pós-modernismo. Com 10 obras publicadas, a autora moçambicana já recebeu prêmios, como o Prêmio José Craveirinha de Literatura (2003).
Ficha técnica
Ventos do Apocalipse
Autora: Paulina Chiziane
Data da primeira publicação: 1983
Gênero: Romance
Idioma original: Português
Número de páginas: 233
Onde achar: Amazon
Foto de capa: Reprodução.
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Formada em Jornalismo e com especialização em mídias digitais, a baiana tem dedicado sua carreira ao mercado audiovisual há oito anos, quando iniciou na área. Já atuou como produtora executiva em obras para a televisão e em diversas funções dentro da produção de uma obra. Apaixonada por filmes e séries, se considera uma viciada que assiste mais de seis obras por semana.