Atlântico Reportagem

Após golpe militar, Sudão tem transição democrática interrompida

O Premiê do Sudão, Abdalla Hamdok, e vários ministros de seu governo foram presos nesta segunda-feira, 25, por forças militares sudanesas. O ato, caracterizado como um golpe de estado em curso, interrompe a conturbada transição democrática que o Sudão vinha percorrendo há duras penas desde 2019, após 30 anos de regime ditatorial.

Após a prisão do Premiê e de vários membros do alto escalão governamental, o General Abdel-Fattah Burhan, anunciou a dissolução do Conselho dos Ministros e do Conselho de Soberania, comitivas mistas de civis e militares que governavam o país na transição democrática.

Ainda no discurso, o general Burhan declarou estado de emergência nacional e disse que os militares vão manter o acordo de promover eleições e um governo civil, não esclarecendo, no entanto, os prazos para deixar o governo.

Várias estradas foram bloqueadas, e a emissora estatal passou a transmitir apenas músicas patrióticas. As demais comunicações, como internet e telefonia, também sofreram constantes interrupções na segunda-feira, segundo informações da Netblocks, organização que monitora e documenta instabilidades na internet em todo o mundo.

Manifestações

Em reação ao golpe militar de hoje, manifestantes tomaram as ruas, protestando contra a tomada de poder. A Associação de Profissionais Sudaneses, um coletivo de sindicatos trabalhistas e liderança política, pediu que os manifestantes resistissem nas ruas às retaliações militares.

Na última semana, houve manifestações em várias cidades do país pedindo a retirada dos militares e a unanimidade de representantes civis no governo. Este protesto também foi uma resposta a outro movimento anterior, que ficou por dias na frente do palácio presidencial e pedia por um governo exclusivamente militar.

No dia 21 de setembro, o Governo sudanês anunciou que foi alvo de uma tentativa de golpe. Desde então houve uma escalada nas tensões dentro do governo e também na sociedade civil.

Momento em que o premiê Hamdok anunciou que as divergências de grupos de dentro do governo de transição marcavam o “pior e mais perigoso momento da crise”.

Reações internacionais 

A União Europeia, através do chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, pediu para que “retomem o processo de transição”. Borrell diz estar acompanhando os fatos com a “maior preocupação”.

A Missão das Nações Unidas no Sudão condenou o golpe e as tentativas de minar a frágil transição democrática da nação do nordeste africano. Assim como a Liga Árabe, bloco econômico, social e cultural do qual o Sudão faz parte, que pediu para as partes aderirem a um acordo em prol da transição democrática.

O enviado da ONU no Sudão, Volker Perthes, considerou “inaceitável” a prisão dos representantes governamentais de transição e pediu a liberação dos detidos. Os Estados Unidos se dizem “preocupados” e lembraram que um golpe militar ameaça a relação norte americana com o país.

França e Alemanha também condenam a tentativa de golpe de Estado, pedindo que a interverção não vá adiante e a liberação do Premiê e seus ministros.

Sudão

Com 40 milhões de habitantes, o Sudão é o décimo país mais populoso da África, faz fronteira com sete países africanos e figura em uma boa posição geográfica, no nordeste da África, próximo ao Oriente Médio. O país ainda tem acesso ao Rio Nilo e ao Mar Vermelho. 

Ficou por 30 anos sob um governo ditatorial, conseguindo se libertar em 2019, quando iniciou a fase de transição democrática, interrompida pelos últimos acontecimentos desta segunda-feira.

Em 2011, após plebiscito popular, a região sul do país tornou-se independente, dando origem ao Sudão do Sul. Ambos os países têm potencial para exploração de petróleo.

*Com informações do portal DW

Foto de capa: Reprodução.

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