Radar Negro

Cinco escritoras negras de ficção e fantasia que você precisa conhecer

Fazer indicação de literatura feminina negra e de ficção e fantasia requer antes um resgate histórico, pois se a figura masculina já é considerada superior à feminina branca, quando consideramos o recorte de raça, essa autoridade é ainda mais evidente na sociedade.

Entre os séculos 18 e 19, dezenas de escritoras se esconderam atrás de pseudônimos masculinos, sobrenomes ambíguos ou mesmo do anonimato para publicar suas obras. Algumas das principais motivações para essas atitudes estavam relacionadas às imposições da sociedade, que considerava a atividade doméstica como único papel destinado às mulheres brancas. Qualquer ambição além disso era vista como transgressão.

O histórico de grandes autoras que utilizaram esse recurso tem nomes como a romancista inglesa Jane Austen; a francesa Amantine Dupin; as irmãs britânicas Charlotte, Emily and Anne Brontë; e a brasileira Maria Firmina dos Reis, que assinava “uma maranhense”.

As autoras negras como Maria Firmina eram ainda mais desacreditadas. Não por serem relacionadas à atividade doméstica, mas por serem consideradas intelectualmente inferiores.

Em 2016, foi publicado o relatório #BlackSpecFic da revista Fireside Fiction Company, atestando o racismo. Segundo o documento, das 2.039 publicações em 2015 em 63 revistas, 38 foram feitas por escritores negros. Sabe quanto isso representa do total? 2%. Sim, apenas 2% das publicações foram de autores negros naquele ano.

Então, quantos autores negros você já leu? Quantas mulheres negras estão na sua biblioteca? Quantas autoras negras estão entre seus downloads no Kindle ou em outros aplicativos? E se o filtro for ainda mais detalhado, quantas autoras negras de ficção científica e/ ou fantasia estão na sua leitura, indicação ou desejo de aquisição para leitura?

Se em sua resposta você alcançar 2% do volume de leitura, nós te convidamos a atualizar e aumentar essa lista. Vamos valorizar autores e autoras negras que têm muito a acrescentar. Não se limite a nossas listas, busque e indique mais.

A ordem em que as escritoras aparecem abaixo não tem qualquer relação de prioridade entre elas. Optamos por indicar em ordem alfabética.

Ana Paula Maia

Foto: Reprodução/Instagram.

Ana Paula é afro-brasileira, nascida no Rio de Janeiro e é filha de mãe professora e pai comerciante. Além de escritora, também é roteirista. O estilo de escrita da autora é ficção com os dois pés no suspense e no terror. Desde criança era fã desse gênero de filme.

Em 2003, publicou o primeiro romance: O habitante das falhas subterrâneas. Também é autora dos livros Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos/ O trabalho sujo dos outros, A Guerra dos Bastardos, De Gados e Homens, Assim na Terra como embaixo da Terra, Carvão Animal, e o mais recente, Enterre Seus Mortos. Na maioria dos livros, um personagem é recorrente: Edgar Wilson.

Assim na Terra como Embaixo da Terra e Enterre Seus Mortos foram premiados pelo Prêmio São Paulo de Literatura.

As obras de Ana Paula estão disponíveis na Livraria Cultura, Amazon, Americanas, Estante Virtual e Mercado Livre.

Lu Ain-Zaila

Foto: Reprodução/Instagram.

A brasileira é formada em pedagogia pela UERJ e começou escrevendo contos, até descobrir o desejo de escrever livros de ficção científica. É considerada a voz feminina do afrofuturismo no Brasil, e além dos livros, também realiza palestras sobre o tema. 

Em 2015, decidiu criar a Duologia Brasil 2408 com os livros (IN)Verdades e (RE)Volução. Os livros foram publicados de forma independente e contam a história de Ena, uma heroína que luta contra a corrupção no Brasil do século 25.

Também lançou o livro Sankofia: breves histórias afrofuturistas, com 12 contos relacionados ao afrofuturismo. O mais recente é Ìségún, lançado pela editora Monomito, que narra a história do detetive do Núcleo de Combate a Crimes de Ordem Ambiental-Humana, Zuhri. O detetive investiga o assassinato de um importante chefe de pesquisas de biolimpeza industrial.

As obras de Lu estão disponíveis na Amazon e na editora Monomito.

Nnedi Okorafor

Foto: Divulgação.

Nnedi é afro-americana de ascendência nigeriana, professora na Universidade de Buffalo, em Nova Iorque. A autora escreve obras de ficção especulativa, ficção científica e fantasia.

Foi vencedora dos prêmios: Prêmio World Fantasy na categoria Melhor Romance; Hugo Award e o Nebula Award de Melhor Novela de 2016. Atualmente, é contratada da Marvel para escrever três volumes sobre a força feminina de Wakanda.

Entre suas obras estão Quem Teme a Morte, a trilogia Binti, The Book of Phoenix e a série Akata e Lagoon.

No livro Quem Teme a Morte, que se passa na África, Nnedi conta a história de Onyesonwu, uma jovem misteriosa com superpoderes que podem salvar a humanidade. O livro tem previsão de adaptação pela HBO.

Já em Bruxa Akata, conta a história de Sunny, uma garota albina de 12 anos que não se encaixa em nenhum lugar, até descobrir que tem poderes especiais. 

Os livros da autora podem ser encontrados na Amazon e no Mercado Livre.

Octavia Butler

Foto: Divulgação.

Afro-americana, falecida em 2006, decidiu se tornar escritora aos 12 anos de idade, após se decepcionar com o roteiro de um filme de ficção científica. Conhecida como a “grande dama da ficção científica”, Butler foi consagrada por inserir questões de preconceito e racismo nas obras, sempre colocando as personagens femininas negras em posição de poder. Isso ainda na década de 70. 

A autora publicou grandes sucessos, como sua obra mais importante,  Kindred – Laços de Sangue, lançado nos Estados Unidos em 1979. No Brasil, o livro foi editado apenas em 2017, mais de 10 anos após a morte de Butler. Ela também é autora de Parábola do Semeador, que faz parte da duologia Semente da Terra e Despertar e Ritos de Passagem, ambos da trilogia Xenogenesis.

Em vida, foi bastante laureada: recebeu o Prêmio Hugo, um dos mais importantes do gênero, além dos prêmios Nebula, Locus e Science Fiction Chronicle. Em 2010, quatro anos após sua morte, entrou para o Hall da Fama da ficção científica, em Seattle.

As obras da autora estão disponíveis na Amazon, Americanas, Submarino, Livraria Cultura e Mercado Livre.

Tomi Adeyemi 

Foto: Divulgação.

Adeyemi é uma escritora afro-americana de origem nigeriana formada em Harvard. Escreveu sua primeira história aos cinco anos, tendo como personagem principal uma fictícia irmã gêmea.

Em 2018, escreveu o primeiro sucesso – Filhos de Sangue e Osso – um livro de ficção baseado na cultura yorubá. Adeyemi se inspirou para escrever o enredo em Salvador-BA, onde estudava após receber uma bolsa de estudos. A história faz parte da trilogia O legado de Orïsha.

O livro foi lançado no Brasil pela editora Rocco e recebeu o Prêmio Andre Norton de Ficção Científica e de Fantasia para Jovens Adultos, em 2018; em 2019, foi finalista no Prêmio Lodestar de Melhor Livro para Jovens Adultos. Permaneceu por 50 semanas na lista de bestsellers do New York Times. Atualmente, a Fox 2000 é detentora dos direitos de adaptação para os cinemas.

O livro está disponível na Amazon (físico e digital), Americanas, Submarino, Mercado Livre e Shoptime.

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