Atualizado às 12h45 do dia 08/10/2021
A exposição artística “Pra ficar claro, escureci” sobre a construção da identidade negra no Ceará reúne de forma inédita quatro artistas negros, com lançamento previsto para as 10h desta quinta-feira, 7, na casa do Barão de Camocim, no Centro de Fortaleza (CE). Os cearenses Felipe Helói, Nycolas Di, Tamires Ferreira e Robson Marques assumem o protagonismo de fazer uma ilustração por dia neste mês de outubro.
“Em 2018, eu e o Nycolas Di juntamos nossas ideias para criar o Blackinktober, que foi um grande passo pras nossas carreiras, porque promoveu não só o debate na comunidade artística, mas também um debate interno sobre quem estamos representando em nossas artes”. É o que diz o artista e ilustrador Felipe Helói.
E com o sucesso do projeto no ano seguinte, o artista conta que decidiu expandir a equipe ao mesmo tempo em que surgiu o questionamento sobre qual seria o próximo passo. “A resposta veio com a exposição. Começamos a visualizar a exposição como uma evolução do Blackinktober. Eu entrei como proponente do projeto, mas a exposição foi toda pensada para ser coletiva, como uma junção de nossas potências. Cada um contribuindo na sua forma, seja com a escrita, design, ou pintura”, pontua.
Então, a ideia da exposição inédita nasceu a partir do projeto “Black Inktober”, uma iniciativa dos próprios artistas que assinam a exposição. Além de pensar e fazer uma ilustração por dia neste mês de outubro sobre aspectos relacionados à negritude, eles vão publicar o resultado no Instagram, utilizando a hashtag #BlackInktober. O objetivo é de enegrecer a tag Inktober (criada por Jake Parker) para que artistas pretos pensem a representatividade negra dentro da arte.
“É muito difícil você conseguir fazer uma exposição artística só com gente negra na equipe aqui nesse estado! Porque é muito complicado quando se fala, principalmente, em artes visuais, né? Porque a gente sabe quem é que trás as narrativas de artes visuais…”, reflete a artesã e aquarelista Tamires Ferreira, uma das artistas participantes da exposição.
Sobre a exposição artística
Debaixo de nossos pés, no subsolo, memórias recentes permanecem, por vezes, intocadas. O que incomoda é apagado, como toda a historiografia da população negra brasileira. A realidade de outrora repete-se no hoje. Na ausência de oportunidades; na reprodução de privilégios, que mantém os barões na superfície e a senzala nas zonas de esquecimento.
Na busca por romper silêncios impostos, a exposição: “Pra ficar claro, Escureci” foi desenhada pelas mãos de Felipe Heloi, Nycolas Di, Tamires Ferreira e Robson Marques, artistas cearenses que ousaram confrontrar o discurso da inexistência de negros no Ceará por meio da arte. A pele, a boca, a mente, o intrínseco, emergem como telas vivas para enunciar histórias plurais. É preciso descer ao porão e descobrir a senzala, é necessário sangrar para sentir os vicissitudes da cura.
As obras coletivas expostas são: “Que negro/a é você?”, “Negro é cor?”, “Tinta Branca no Muro Preto” e “Oxalá e Negros no poder”. A exposição recebe apoio da Secretaria Municipal de Cultura.
Saiba detalhes
Exposição “Pra ficar claro, escureci”
Abertura: dia 7 de outubro, às 10h
Visitação: de 7 a 27 de outubro
Horários: terça a sexta, de 10h às 17h e aos sábados, de 9h às 16h
Local: Casa do Barão de Camocim (Rua General Sampaio, 1632 – Centro)
Acessibilidade: interpretação em libras
Recomendações: uso obrigatório de máscara e respeito aos protocolos sanitários
Mais informações no Instagram: @blackinktober
Gratuita
Foto de capa: Divulgação.
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Jornalista profissional (nº 4270/CE) preocupada com questões raciais, graduada pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É Gestora de mídia e pessoas; Fundadora, Diretora Executiva (CEO) e Editora-chefe do Negrê, o primeiro portal de mídia negra nordestina do Brasil. É autora do livro-reportagem “Mutuê: relatos e vivências de racismo em Fortaleza” (2021). Em 2021, foi Coordenadora de Jornalismo da TV Unifor. Em 2022, foi indicada ao 16º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Jornalista revelação – início de carreira”. Em 2023, foi indicada ao 17º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Região Nordeste” e finalista no Prêmio + Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira em 2023 e 2024. Soma experiências internacionais na África do Sul, Angola, Argentina e Estados Unidos.