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“O comportamento do Maurício ajuda o meu comportamento na vida”, diz Juan Paiva

Juan Oliveira Paiva: o pai, o irmão, o amigo. Quem se dedica à família, aos amigos. Tem também Juan Paiva artista, que se divide em dois: o ator e Blink, seu lado artístico-musical. É assim que se define o artista nascido no Rio de Janeiro e morador do Vidigal. Ele hoje divide o dia a dia com a companheira Luana e a filha Analice. Antes, morava com o pai, a mãe e dois irmãos.

Com trabalhos no Cinema e na TV e com a carreira crescente, Juan afirma que a arte não foi sua primeira opção como profissão. Ainda pequeno, ele nunca soube muito bem o que responder quando a mãe o perguntava sobre o que ele queria fazer. Por questões de saúde, passou parte da infância em hospitais e, ao ver como os médicos cuidavam dele e das outras crianças, enfim teve uma resposta para dar à mãe: “Chegou uma época que eu disse assim: ‘quero ser médico pediatra’, porque eu passava muito tempo no hospital, e eu achava bonito os médicos cuidando das crianças. Eu queria retribuir também e exercer essa profissão, achava interessante. Eu era bem novo, mas eram só pensamentos, não tinha algo bem estabelecido, não tinha perspectiva, até porque a realidade era totalmente diferente, era muito distante de mim, não sabia como fazer isso, sabia que tinha que estudar”.

Mas, como um bom morador do Vidigal, lugar que o ator diz ser um celeiro de artistas, não conseguiu fugir da arte. Na comunidade, há o grupo de teatro Nós do Morro, fundado com o intuito de oferecer formação técnica aos jovens moradores e que já projetou nacionalmente muitos artistas. Foi vendo a primeira geração do Nós do Morro que algo despertou nele. “A primeira geração do Nós do Morro me serviu muito de inspiração, e eu tinha bastantes referências. Eu vendo aqueles artistas na tela, no cinema ou na televisão, fazendo teatro, me despertou uma curiosidade, até porque eu era uma criança tímida, e minha mãe falou que, se de repente eu fizesse teatro, poderia quebrar um pouco dessa timidez”, conta.

Aos oito anos, Juan Paiva fez um teste para o grupo de teatro e conseguiu entrar. “Meu teste rolou, mandei bem, a galera gostou. Passei e comecei a fazer teatro. A partir daí, eu comecei a fazer peças, práticas de montagem, até que veio meu primeiro filme”, relembra.

O começo nas telas

O primeiro trabalho profissional de Juan foi no filme 5x Favela – Agora por Nós Mesmos (2010). “Foi o meu primeiro filme no cinema, foi quando eu falei: ‘é possível, e eu quero continuar nesse caminho’”. O ator diz que sempre teve apoio do pai, que era quem o levava para os testes que surgiam. “As coisas foram acontecendo, graças a Deus, e isso passou a ser um sonho, de viver desse trabalho, um sonho que está se tornando realidade. É o que eu luto, eu batalho pra continuar no caminho, porque eu gosto muito”.

Foto: Neto Ponte.

Já na televisão, sua primeira oportunidade foi na novela Totalmente Demais (2015). Para ele era tudo novo, mas se entregou com intensidade ao trabalho. “Ali, eu tava aprendendo a linguagem da televisão, curti demais fazer. Foi um trabalho que me deu uma visibilidade de início, uma personagem importante na trama, de um núcleo interessante. Foi um presentaço que eu recebi”, afirma.

M8 – Quando a Morte Socorre a Vida

Meses atrás, foi divulgado na internet o trailer do filme M8 – Quando a Morte Socorre a Vida (2020), despertando atenção e curiosidade de muita gente. Nele, Juan interpreta Maurício, um jovem que começa a estudar numa renomada Universidade Federal de Medicina. Já na primeira aula, ele conhece M8, o cadáver de outro jovem, também negro, que servirá de estudo para ele e os colegas. Pelo trailer, percebe-se que o filme discutirá muitas questões presentes na nossa sociedade: o acesso de pessoas pretas a cursos de graduação elitizados, o genocídio de jovens negros e a violência policial, entre outras.

Essas questões também passam por algumas vivências de Juan, o que o deixa mais próximo da personagem. “Não é tão distante de mim, é uma personagem que representa várias personagens na vida. Na realidade, tô ali me representando e representando os meus irmãos que tão sempre na correria, na luta diária. O Maurício se aproxima de mim assim como o Juan Paiva se aproxima do Maurício. É um cara batalhador, que corre atrás das suas metas. Que passa por tudo isso diariamente e que sempre tem que manter ali a cabeça erguida…”.

Por esses motivos, a personagem foi para Juan um presente e uma oportunidade de aprendizado, mas também uma grande responsabilidade. “Eu falei: ‘não posso decepcionar, eu tenho que fazer valer essa parada, porque eu tô falando de mim, eu tô falando dos meus irmãos, eu tô falando dos cria. Então vamos embora, vou me jogar de forma intensa e com todas as armas que eu venho conquistando no caminho da minha carreira, com tudo que eu venho aprendendo’. Foi um jogo de alma ali, de doar o que há dentro de mim pra essa personagem, e essa personagem me doou, até porque eu aprendi muito. Eu sempre aprendo com cada personagem, a personagem doou o interno dela pra mim. O comportamento do Maurício ajuda o meu comportamento na vida, e eu empresto um pouco de mim pro Maurício”, revela.

Juan já havia trabalhado com o diretor do filme, Jeferson De, e foi por meio de um teste que conseguiu o papel do protagonista. “Ele (Jeferson) me chamou pra fazer um outro teste, porque eu já tinha passado no primeiro, mas era um teste com outros atores pra saber se a gente tinha afinidade, se tava rolando uma química com os outros atores que iam fazer os alunos da faculdade. Aí, eu fui chamado pra leitura de mesa, então pensei: ‘já tô dentro, que bom, agora é trabalhar’”.

Foto: Reprodução/Instagram.

O longa fala também sobre ancestralidade e para Juan foi uma chance de aprender mais sobre o assunto. Criado numa doutrina evangélica, o ator afirma que não conhecia muito de outras religiões, mas teve a oportunidade por causa da sua personagem, que é da Umbanda. Contou também com o auxílio de uma mãe de santo, chamada Flávia. “Ela nos conduziu muito bem, nos ensinou como funciona um centro. Teve todo um ritual antes de fazer algumas cenas também, em respeito a tudo. A gente teve esse cuidado, essa delicadeza, porque também é uma responsabilidade”.

O lançamento do filme está previsto para a próxima quinta-feira, 3 de dezembro. O ator acredita que com o sucesso que o filme tem feito na internet, não será diferente nos cinemas. “Pelo que eu tô vendo, tá sendo bem recebido, tá num caminho muito interessante e que eu nunca tinha visto, tá fazendo um sucesso danado na internet. Eu nunca tinha feito um trabalho que tivesse tanta visibilidade assim, que as pessoas quisessem bastante assistir”.

No elenco, estão também, Mariana Nunes, Bruno Peixoto, Fábio Beltrão, Zezé Motta, Ailton Graça, Rocco Pitanga, Raphael Logam, Lázaro Ramos e Malu Valle em participações especiais. Outra boa notícia é que ele está concorrendo ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro.

Outros trabalhos

Juan Paiva também está no elenco do filme Sem Seu Sangue (2019), disponível na Netflix, e na série As Five (2020), no Globoplay. Seu próximo trabalho em rede aberta será a novela das 21 horas. Sem poder dar muitos detalhes sobre, ele só afirmou que está bem animado com o novo desafio. A novela vai ao ar em 2021.

Foto de capa: Divulgação.

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