Em setembro do ano passado, a Magazine Luiza articulou uma questão reparatória em sua empresa, afim de promover que pessoas pretas e pardas (população negra) tenham oportunidade de trabalhar como trainee na empresa, entendendo que negros são menos de 4% dos profissionais em cargos de lideranças no mundo do trabalho.
No ano passado, o processo foi alvo de ataques nas redes sociais porque decidiu contratar apenas profissionais negros desta vez. Ao que tudo indica, as críticas após o lançamento da iniciativa contribuíram para aumentar o número de inscritos, superando os 22,5 mil candidatos.
Devido a oferta de talentos maior, a empresa optou por contratar 19 trainees, ao invés de 10, como normalmente faria. Portanto, essa será a maior turma de trainees formada pela companhia.
A iniciativa obteve finalistas com trajetórias e perfis autênticos e qualificados. Para além disso, demonstrou as dificuldades das pessoas pretas na educação e empregabilidade no Brasil.
Realidade
Algo muito recorrente entre os finalistas e participantes é ter estudado em escolas públicas, precisarem ter trabalhado durante a graduação e ter sido uma das primeiras pessoas da família a se formar em uma universidade.
Além disso, a média de idade é de 28 anos, o que apresenta profissionais que se formaram mais velhos, quando em comparação a realidade de brancos. Inegavelmente, isso é uma expressão do privilegio branco na sociedade.
Em uma entrevista cedida ao Folha de SP, Vinicius Porto, diretor de pesquisa do Magalu, relata que os processos de trainee que não atendem a representatividade racial do país, costumam ter mais candidatos que se formam aos 21 ou 22 anos, enquanto essa parte da população se forma mais tarde porque tem de trabalhar para bancar a faculdade.
O recrutamento da Magalu também se atentou a uma necessidade da população negra brasileira: considerar as diversidades. Como por exemplo, o finalista Oluwaseyi Longe, de 23 anos, nigeriano, formado em Engenharia Química pela Universidade de Campinas (Unicamp). Ele veio para o Brasil ainda quando era bebê e sua família busca manter as raízes e o idioma vivo, em casa, a língua é iorubá.
A maioria dos candidatos tem consciência da desigualdade racial e social, e um repertório construído na teoria e na prática que explicita isso. Além disso, outro ponto a se observar e refletir desse processo foi o espírito de cooperação dos participantes, que se sobrepôs ao clima competitivo.
Durante as etapas, provas e dinâmicas para seleção, foi comum também observar os candidatos e as candidatas abrindo espaço para os concorrentes falarem. Nesse sentido, fica evidente a colaboração e empatia entre negritude.
Foto de capa: Adriano Vizoni/Folhapress.
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Ouça o episódio #01 – Conheça o Site Negrê:
Jornalista em formação pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e afropesquisadora. Atualmente, estuda movimento negro e juventude em Minas Gerais, mas já aprofundou em racismo institucional e racismo e mídia. Também se interessa por cultura, música (principalmente rap nacional!) e política, sobretudo pelo modo que essas pautas dialogam com negritude no Brasil. É fotógrafa nos horários vagos (com a percepção e admiração pela maneira que a fotografia e o fotojornalismo narram realidades e perspectivas). Além disso, também é militante pelo Levante Popular da Juventude, comunicadora e coordenadora de cultura do Coletivo Negro KIANGA.