Osvaldo Pereira, 87, é considerado o primeiro DJ do Brasil, nascido na cidade mineira de Muzambinho e, há 71 anos, mora na zona norte da Capital paulista. Percussor na discotecagem no país e com maestria e cuidado, Osvaldo escolheu cada canção para agitar e alegrar os bailes que participa.
A carreira dele como discotecário começou no início da década de 50, quando ele já era técnico de eletrônica e tocava em casamentos, aniversários e festinhas no bairro.
Assim como para a maioria dos brasileiros e brasileiras, a pandemia do Covid-19 atrapalhou gigantemente sua atuação, o DJ fez apenas uma live e permanece em casa para se precaver. Em uma entrevista dada ao portal UOL, Osvaldo afirma que “A pandemia foi um alerta para o mundo. Só não vai acordar agora quem não quiser. Você percebe que ela é perigosa”.
A trajetória de Osvaldo Pereira
A música sempre esteve presente em sua vida, pois, ainda na infância, o DJ se recorda de como a música e o rádio eram importantes para ele e sua mãe no cotidiano. Aos 12 anos, foi morar em São Paulo com alguns familiares e a formação sociocultural e musical da cidade influenciou muito em sua formação.
Em sua trajetória, trabalhou em uma loja de rádios no centro da cidade, onde consertava e montava equipamentos sonoros. Também fez parte da linha de montagem da Philco como consertador, contramestre e supervisor.
Além disso, estudou à distância (por meio de correspondências) em uma grande escola de comunicação dos Estados Unidos, o que auxiliou ele a criar as técnicas de mixagem que o tornaram o animador de festas mais requisitado da época.
Uma familia de DJs
Osvaldo Pereira ficou viúvo quando o filho mais novo dos cinco filhos tinha apenas um ano e alguns anos depois, conheceu sua segunda companheira, que já tinha dois filhos. Atualmente, tem sete filhos, sete ou oito netos e dois bisnetos.
Com muita felicidade, o primeiro DJ brasileiro diz que, em sua família, tem cerca de 25 DJs. Inclusive, relata a diversidade de gostos e atuações, uma vez que um dos integrantes toca e tem apreço por canções sertanejas. “A fama de DJ das festas e os filhos foram herdando. Tem um aí que só tá com música sertaneja. É bem diversificado”.
Percussor na discotecagem
Osvaldo explicita várias especificidades sobre música no país. Sem dúvidas, suas técnicas a frente do seu tempo e sua história de vida influenciam em suas percepções. Como um dos pontos principais, fala sobre a diferença entre o repertório das festas do centro e as festas que aconteciam nas regiões periféricas.
Os clubes e salões tradicionais de São Paulo eram acostumados a contratar orquestras inteiras para reproduzir sucessos nacionais e internacionais. E nas bordas da cidade, o mais comum eram as festas em casa, com condições modestas de som.
Nesse sentido, o DJ era capaz reproduzir a grandiosidade das big bands com uma vitrola, bastante engenhosidade, muito talento e um preço muito mais acessível, esse era seu diferencial.
Além disso, Osvaldo afirma e demonstra que não ficou parado no tempo e revela que tem aproximadamente 3 mil músicas em seu computador. Enquanto a pandemia não acaba, o primeiro DJ brasileiro mantém tudo preparado para quando puder voltar a discotecar e embalar os bailes paulistas.
Foto de capa: Acervo roqueiro na Barato Afins.
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Jornalista em formação pela Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e afropesquisadora. Atualmente, estuda movimento negro e juventude em Minas Gerais, mas já aprofundou em racismo institucional e racismo e mídia. Também se interessa por cultura, música (principalmente rap nacional!) e política, sobretudo pelo modo que essas pautas dialogam com negritude no Brasil. É fotógrafa nos horários vagos (com a percepção e admiração pela maneira que a fotografia e o fotojornalismo narram realidades e perspectivas). Além disso, também é militante pelo Levante Popular da Juventude, comunicadora e coordenadora de cultura do Coletivo Negro KIANGA.