Apesar de o Oscar frequentemente negligenciar o trabalho de negros no cinema, sejam eles atores ou diretores, as pautas sobre diversidade vêm conquistando mais espaço. Mas se engana quem acha que isso surgiu agora.
Na década de 70, houve um movimento chamado Blaxploitation, que concebeu filmes feitos apenas por negros (na frente e atrás das câmeras) e com trilhas sonoras incluindo soul, funk e jazz.
Além da representatividade com personagens pretos de destaque, os filmes descartavam estereótipos atribuídos à população negra dos Estados Unidos daquele tempo.
Hoje, estamos aqui para falar de outro assunto: cineastas do cinema contemporâneo. Fizemos aqui uma lista de diretores negros em atividade para maratonar sem medo. Confira!
Spike Lee
Spike Lee, 63, o mais conhecido cineasta ativista do movimento negro, já se consagrou no primeiro filme: Malcolm X (1992), que conta a história do ativista defensor dos direitos dos negros nos Estados Unidos.
Além de diretor de cinema, Lee é produtor, professor e roteirista. Em 2019, seu filme, Infiltrado na Klan (2018), foi indicado em quatro categorias do Globo de Ouro (Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Direção) e seis categorias do Oscar (Melhor Filme, Melhor Direção, Melhor Ator Coadjuvante, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Trilha Sonora e Melhor Edição), tendo vencido o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado.
O longa se passa na década de 70 e conta a história de um detetive que se infiltra na Ku Klux Klan para expor e desarticular o grupo racista.
Também vale a pena assistir ao filme Faça a Coisa Certa (1989), um dos mais icônicos do diretor, e ao documentário Quatro Meninas – Uma História Real (1997), que oferece um grande choque de realidade ao espectador.
O último filme dirigido por Spike Lee, desenvolvido em parceira com a Netflix, foi Destacamento Blood (2020), que conta com Chadwick Boseman no elenco.
Jordan Peele
É um dos grandes nomes do chamado “novo terror”, que, na verdade, não é tão novo como se imaginava. Mas isso não diminui em nada a qualidade técnica de Jordan Peele, 41, como diretor.
Com Corra! (2017), o primeiro longa-metragem do cineasta, venceu o Oscar de Melhor Roteiro Original (o primeiro negro a consegui-lo). O filme (e o estilo do diretor de modo geral) volta aos primórdios do terror no cinema, num momento anterior aos efeitos digitais.
Corra! denuncia as estruturas através de uma história psicologicamente incômoda, onde um rapaz negro se vê preso em uma “armadilha” de uma família branca do interior dos Estados Unidos.
Dois anos depois, estreou o segundo filme de Peele, Nós (2019), o filme de terror original com maior bilheteria de estreia da história, com US$ 70 milhões arrecadados.
O cineasta também foi um dos produtores de Infiltrado na Klan, de Spike Lee, ao lado de Raymond Mansfield, Shaun Redick, Sean McKittrick e Jason Blum.
Jordan Peele foi o primeiro negro a ser indicado com a mesma obra (Corra!) para Melhor Roteiro Original, Melhor Direção e Melhor Filme.
Barry Jenkins
O diretor Barry Jenkins, 40, foi o vencedor do Oscar de Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Filme em 2017 com Moonlight: Sob a Luz do Luar (2016). Mahershala Ali levou o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante.
O filme discute questões referentes à busca da identidade e descoberta da sexualidade de um jovem negro em vários momentos da vida. Nessa jornada de encontro consigo mesmo, ele fica exposto às reações da sociedade ao redor.
Com Moonlight, Jenkins conseguiu o troféu mais cobiçado da premiação mais importante do cinema, no ano seguinte à polêmica lembrada como “Oscar Branco”, em 2016. A edição, que não teve nenhuma pessoa negra indicada em nenhuma categoria, trouxe à tona a discussão sobre a falta de diversidade no cinema e foi boicotada por grandes nomes, como Spike Lee, Will Smith e Jada Pinkett Smith.
Moonlight foi premiado em 2017 não apenas para que a Academia se retratasse: a crítica e outros festivais atestaram a qualidade do filme, que também ganhou um Globo de Ouro (Melhor Filme de Drama).
Além de diretor, Jenkins também é roteirista, e alguns trabalhos de destaque são Medicine for Melancholy e Se a Rua Beale Falasse, além da direção de um episódio da série Cara Gente Branca, da Netflix.
Steve McQueen
McQueen, 50, foi o primeiro homem negro a ganhar um Oscar de Melhor Filme, com 12 Anos de Escravidão (2013). O cineasta já tinha sido premiado com outros dois trabalho, Hunger e Shame, ambos estrelados pelo ator Michael Fassbender, mas foi no terceiro longa-metragem, que se consagrou.
12 Anos de Escravidão foi potente, não apenas por ter colocado Steve McQueen como um nome forte no cinema, como também por fazer decolar a carreira de Lupita Nyong’o, que ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. O filme ainda faturou o prêmio de Melhor Roteiro Adaptado.
A história, baseada em uma narrativa real, conta como um fazendeiro negro na Nova York do século XIX é sequestrado, separado de sua família e vendido para ser escravizado em uma fazenda de algodão. O filme se desenvolve por meio da discussão sobre as estruturas sociais, religiosas e históricas do racismo.
Steve McQueen ainda dirigiu o filme Viúvas (2018), que, apesar de não ter a questão racial como a principal história, mostra essa ideia com um simbolismo particular.
A obra retrata como a figura de uma viúva aparece atrelada a inúmeros estereótipos e julgamentos, apenas pela imagem, algo que o McQueen presenciou durante toda a vida, principalmente, ao longo da infância em Londres nos anos de 1980.
O diretor já tem engatilhados dois filmes, que devem estrear em breve. Mangrove, que também é baseado em uma história real e contará a história do grupo ativista Mangrove 9 e sua luta para expôr o racismo na violência das ações policiais; e Lover’s Rock, que mostrará como um casal negro enfrentava dificuldades para viver com dignidade na Londres de 1980.
Fotos de capa: Divulgação.
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Jornalista pela Universidade de Fortaleza (Unifor) e mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Ceará (UFC), na linha de pesquisa de fotografia e vídeo. Redator, roteirista e editor de podcast e peças em áudio. Profissional do marketing, trabalha com comunicação digital, comunicação política e marketing eleitoral.