Atualizado às 11h45 do dia 13/11/2022
José Eduardo dos Santos (1942-2022) é o nome do ex-presidente de Angola, país situado na região Central de África Austral, falecido aos 79 anos, no último dia 8 de julho deste ano. Ele é conhecido por sua permanência longa como chefe de Estado; ou seja, 38 anos sob o poder de um território com 18 províncias, tendo Luanda como capital, e é considerado o 7º país em extensão no Continente Africano. Angola celebra nesta sexta-feira, 11, 47 anos de sua Independência.
E quem foi ele?
Zédu (como é conhecido pelos angolanos) nasceu em 28 de agosto de 1942 no bairro Luandino, município de Sambizangada, em Luanda, capital angolana. No entanto, há controvérsias sobre sua origem de nascimento. Ele é filho de Eduardo Avelino dos Santos e de Jacinta José Paulino (imigrantes de São Tomé e Príncipe, arquipélago situado na região Central de África). Frequentou a escola primária em Luanda onde fez o ensino secundário no Liceu Salvador Correia que, na época, era a principal escola secundária do país.
No final de 1950, deu início a sua vida política ao integrar grupos clandestinos que se constituíram nos bairros suburbanos da capital. Em 1961, aos 16 anos, enquanto ainda completava seus estudos, se uniu ao Movimento Popular da Libertação Angolana (MPLA). Lutou contra o colonialismo português pela Independência de Angola, juntamente com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA) e Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA).
Em 1963, decidiu se exilar no Congo Brazzaville e acabou sendo nomeado como primeiro representante do MPLA naquele país. No mesmo ano, ganhou uma bolsa de estudos na antiga União Soviética, onde formou Engenheiro de Petróleo pelo Instituto de Petróleo e Gás em Baku, capital de Azerbaijão. Concluiu os estudos em 1969. Mas no território russo, frequentou um curso de telecomunicação militar. Em 1970, decidiu retornar para Angola.
Entre 1974 e 1975, José Eduardo voltou a desempenhar a função de Representante do MPLA em Brazzaville. Em 1974, foi eleito membro do Comitê Central e do Bureau Político do MPLA. Já em 1975, foi coordenador do Departamento de Relações Exteriores do MPLA e depois do Departamento de Saúde.
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Sua liderança
Com a proclamação da Independência de Angola, em 11 de novembro de 1975, Zedú foi nomeado Ministro das Relações Exteriores. Entre os anos de 1977 a 1979, foi secretário do Comitê Central do MPLA. Após o falecimento do primeiro presidente Agostinho Neto (1922-1979), dos Santos foi eleito Presidente do MPLA em 20 de setembro de 1979 e, no dia seguinte, tomou posse dos cargos de Presidente da República Popular de Angola e comandante-chefe das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola (FAPLA).
De 1986 a 1992, José Eduardo foi protagonista da Guerra Civil juntamente com seu maior rival, líder do maior partido da oposição, Jonas Savimbi (1934-2002); alegando haver uma política de exclusão de outras forças no cenário político, a imposição de comunismo/socialismo pela antiga URSS e Cuba, falta de democracia, violação dos direitos humanos, terminando com assinatura dos acordos de Bicesse-Portugal em 1991.
Em 1992, aconteceram as primeiras eleições presidenciais e legislativas, monitoradas pela Organização das Nações Unidas (ONU). Os resultados das eleições para presidente foram: José Eduardo dos Santos obteve 49% dos votos, e Jonas Savimbi, 40%. Não havendo vencedor no 1º turno, de acordo com a Constituição Angolana, teria que haver um 2° turno entre os dois principais candidatos, indispensável no momento. O que não ocorreu, em função da contestação dos resultados pela UNITA, afirmando haver fraude. O que se deu o retorno à Guerra Civil.
Deste modo, ele se manteve como Chefe de Estado, mesmo sem legitimidade constitucional. E, então, encabeçou pessoalmente uma grande atividade diplomática, culminando no reconhecimento do governo angolano pelos Estados Unidos em 1993. E depois, pela maior parte dos países.
Em 22 de fevereiro de 2002, Jonas Savimbi foi assassinado na província do Moxico (Leste de Angola) pelas Forças Armadas Angolanas, com apoio técnico de mercenários, que resultou também na morte de outros membros da UNITA. Com a morte de Savimbi, deu-se o fim da Guerra Civil em Angola depois de 27 anos. E, no dia 4 de abril do mesmo ano, foram assinados os acordos de paz entre os dois partidos, no qual a UNITA desistiu da luta armada, concordando com a desmobilização dos seus militares ou da sua integração nas Forças Armadas.
José Eduardo ascendeu politicamente ao conquistar espaços ao longo dos anos na vida pública, devido ao seu precoce interesse em política. Foi considerado por muitos como o “Arquiteto da paz” por suas contribuições para acabar com a Guerra Civil Angolana que assolou o país por 27 anos devido às divergências partidárias. O conflito teve um respiro no ano de 1992 com um acordo estabelecido por Zédu com a União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA); seu partido rival. O acordo garantia constitucionalmente a liberdade política e econômica em Angola.
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Mandato contraditório e corrupção
A gestão de Zédu, que foi uma das mais longas do mundo posta na liderança de um país, colaborou com o desenvolvimento econômico de Angola. O então presidente estabeleceu uma política de livre-mercado, tornando o país um dos mais visados para investimento estrangeiro no Continente Africano.
Apesar de levar o título de “Arquiteto da paz”, alguns também acusam Zédu de governar um país de forma ditatorial e corrupta. Sua família enriqueceu de forma descomunal ao longo dos 38 anos do seu mandato, em um cenário em que grande parte da população sobrevivia em meio à miséria. Em 2014, estima-se que sua herdeira, Isabel dos Santos, estava em posse de uma fortuna de cerca de US$ 3,7 bilhões de dólares.
José Eduardo dos Santos, sempre foi acusado pela sua oposição de negociar o país com ocidente; em troca de todo tipo de apoio para manutenção do seu poder, controlando também a imprensa pública. Zédu controlava o parlamento, o governo, o sistema judicial e ainda a maior parte da comunicação social. Durante o governo de Zédu, pouco houve liberdade de expressão em Angola.
Havia uma expectativa por parte da população que, depois dos acordos de paz, o país desse um grande salto ao desenvolvimento e crescimento econômico, social e político. Mas o quadro visto foi completamente diferente, em meio a uma política mais exclusivista, unilateral e monopartidária na prática. Já que várias vozes não tinham espaço no cenário político angolano.
A história da gestão do Eduardo do Santos é associada à elevada corrupção e uma desigualdade acentuada em termos de distribuição de riqueza. Acumulados de capitais para enriquecimento da sua família e dos seus generais, foi uma das razões da pobreza extrema que assolou o país. Além do Nepotismo, através do qual, colocou a sua filha Isabel do Santos a mais rica e poderosa de África por longos anos, enquanto o restante de seus outros filhos controlava a comunicação social e o fundo monetário.
José Eduardo foi um presidente, que em meio às contradições e contribuições, deixou sua marca na história de Angola e se tornou um símbolo de acordos de paz angolana entre os dois maiores partidos. Faleceu em 8 de julho de 2022 em Barcelona (Espanha). País onde se encontrava desde 2019, após ter sido internado no final do mês de junho deste ano devido a um Acidente Vascular Cerebral (AVC).
*Com colaboração do angolano Distinto Kinguari, biólogo e pós-graduado em Biologia Marinha e Oceanografia
Foto de capa: DR.
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Durante toda a minha formação, o ler, o escrever e o dialogar sempre me causaram entusiasmo; logo percebi que comunicar e trocar vivências me faz crescer, e por que não profissionalmente? Desde que aproximei meus laços com minhas origens, sou interessada principalmente em questões étnico-raciais e anseio colaborar com um Jornalismo que traga voz às narrativas pretas. Graduanda em Jornalismo pela Universidade Anhembi Morumbi (UAM), estagiei em uma agência de comunicação, produzindo e revisando textos publicitários.