Tela Preta

Se a Rua Beale Falasse: um filme de amor à prova de injustiças

Foi em 1974 que o escritor norte-americano James Baldwin (1924-1987) escreveu uma história de amor que foi posta à prova por uma injustiça causada pelo racismo. O próprio Baldwin fugiu da homofobia e racismo dos Estados Unidos para a França e sempre foi considerado uma das mais importantes vozes dos direitos civis, falando especialmente a partir de suas obras. Apenas em 2018 que o premiado diretor Barry Jenkins (Moonlight) difundiu a obra e a voz de Baldwin através do cinema, ao adaptar o romance Se a Rua Beale Falasse…

Foto: Reprodução.

Ambientado nos anos 70, no final dos principais anos da segregação racial nos Estados Unidos, o filme narra a difícil prova ao romance de Tish (Kiki Layne) e Fonny (Stephan James), amigos de infância, que acabam se apaixonando. Acompanhamos uma linda história nascer, quando os jovens fazem juras de amor e compromisso, fazem planos para um futuro juntos e para ter uma família.

Foto: Reprodução.

Ela tem uma família bem estruturada, onde os pais demonstram o tempo inteiro o que é o amor e estão sempre criando possibilidades de estarem juntos. Enquanto Fonny, devido ao difícil relacionamento com sua mãe religiosa, mora no porão da casa, autorizado pelos pais de Tish.

Foto: Reprodução.

Enredo

Tish é quem narra o filme e os acontecimentos que, apesar de chocantes, acontecem todos os dias. Sim, o romance é da década de 70, mas o racismo permanece na vida de negros brasileiros e norte-americanos diariamente, matando, roubando e colocando inocentes na cadeia. Recentemente, vimos o caso de George Floyd (1973-2020) ser julgado. Não tão diferente, estamos vendo crianças pretas brasileiras desaparecerem sem que ninguém se importe, jovens desaparecerem para serem encontrados em valas, pais de família sendo presos inocentemente pelo simples fato de serem negros.

O belo romance de Fonny e Tish é interrompido. Tish é assediada por jovens brancos numa loja e é defendida por Fonny. É neste momento que o policial Bell (Ed Skrein), apesar da pouca aparição no filme, cruza o caminho do casal. Pouco tempo depois, Fonny é acusado de estupro.

A partir daí, começamos a perceber além do romance entre os jovens, a luta por justiça, por provar a inocência de Fonny e manter o amor entre os dois. Após a prisão, Tish descobre que está grávida e se vê uma mãe com um marido preso.

A felicidade do casal, mesmo com todas as adversidades, é evidente, assim como a da família de Tish. Regina King, que interpreta Sharon Rivers (mãe de Tish), ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante pela rica interpretação, uma mãe leal, que tenta a todo custo apoiar a filha grávida e provar a inocência do genro. Eles descobrem que a mulher que acusou o estupro na verdade não viu o estuprador, mas foi forçada pela polícia a reconhecer Fonny. No entanto, ela fugiu dos Estados Unidos.

Todos sabem da inocência de Fonny, mas a violência policial contra afro-americanos e o racismo e o sistema penal são mais fortes que todas as tentativas. A única testemunha que pode falar em favor de Fonny é seu amigo Daniel (Brian Tyree Henry), mas por ter passagem pela prisão está impedido.

O casal não está sozinho e tem o apoio de um núcleo familiar muito forte. Os Rivers têm o amor como centro da criação dos filhos e compreendem que Tish e Fonny precisam de todo o apoio possível. O elenco é conciso e tem como o pai Joseph (Colman Domingo) e a irmã Ernest (Teyonah Parris).

Foto: Reprodução.

Sem mais spoilers, mas o filme não traz o final feliz que esperamos, mas um final real. Um final que deixa claro como o sistema penal é racista, e a polícia pouco se importa em investigar quando o acusado é um homem negro. A cor da pele faz uma grande diferença em todo o filme, mas o amor posto à prova permanece independente das circunstâncias. 

Confira o trailer:

https://www.youtube.com/watch?v=KuR-aPE-w8Y

Ficha técnica

Se a Rua Beale Falasse…
Ano:
2018
País de origem: Estados Unidos
Gênero: Romance/Drama
Classificação: 14 anos
Duração: 120min
Direção: Barry Jenkins
Elenco: Kiki Lane, Stephan James, Regina King, Colman Domingo, Teyonah Parris, Michael Beach, Aunjanue Ellis, Dave Franco, Diego Luna, Pedro Pascal, Dominique Thorne, Ed Skrein, Brian Tyree Henry, Finn Wittrock, Emily Rios.
Disponível: Amazon Prime Vídeo

Foto de capa: Divulgação.

LEIA TAMBÉM: Nós: o que o homem pode criar é muito mais aterrorizante

Ouça o episódio #11 – Os impactos da pandemia nas trabalhadoras domésticas:

Apoie a mídia negra nordestina: Financie o Negrê aqui!

Compartilhe: