Rio Grande do Norte

Ser jovem negro no Rio Grande do Norte é um risco de vida: o que o Atlas da Violência reflete

O que o Atlas da Violência 2020 diz sobre ser negro no Rio Grande do Norte

Dentre as diversas formas que o racismo pode ser evidenciado na sociedade brasileira, uma delas são os índices referentes ao genocídio da população negra. O Rio Grande do Norte (RN) foi o estado que teve a 2ª maior taxa de homicídio de jovens em 2018, ficando atrás apenas de Roraima, de acordo com o Atlas da Violência 2020, realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) em parceria com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública. No RN, um negro tem quatro vezes mais chances de ser morto do que um não negro, esse número além de alertar a sociedade sobre o aumento dos homicídios, também deveria servir como resposta ao mito da democracia racial. 

A “democracia racial” diz respeito à um estado de plena igualdade entre as pessoas independente de raça, cor ou etnia. Através desses dados é nítido que a democracia racial não existe no Brasil, tendo em vista que as pessoas negras são maioria em mortes e minoria em espaços de poder e privilégios da sociedade. Entre 2008 e 2018, as taxas de homicídio apresentaram um aumento (11,5%) para os negros, enquanto para os não negros houve uma diminuição (12,9%), conforme o Atlas da Violência 2020. 

Ao ser questionado sobre o que esses números representam, Ermeson Davi, 24,  relata que esses dados não o assusta, pois apenas revelam o cotidiano do jovem negro periférico no Brasil. “É como se em todos os espaços em que a gente andasse, houvesse um alvo na nossa testa”, comenta. O jovem é morador de um bairro periférico de Natal (RN), estudante do curso de História pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e vocalista da banda SouRebel.

Ermeson Davi. Foto: Luana Tayse.

Ermeson revela que já esteve em situações de extremo perigo, em que poderia ter se tornado mais um desses dados tristes. “Eu já estive na mira de gatilhos em que gritaram ‘atira’, e alguém por algum motivo não atirou e hoje eu estou vivo, isso aconteceu unicamente pela cor da minha pele, unido pelo lugar que eu estava e a roupa que eu estava vestido, dentre outras justificativas que inventaram ao longo da história para que a gente pudesse ser alvo”, lamenta. 

Infelizmente, Ermeson não é o único jovem que passa por essas situações que revelam o racismo estrutural que além de tentar limitar os espaços em que os negros possam ocupar, também faz acontecer o que é conhecido por genocídio da população negra

Em apenas 10 anos, entre 2008 e 2018, o Rio Grande do Norte registrou um aumento (155,6%) no número de mortes violentas, sendo um estado com uma das maiores taxas de homicídio por 100 mil habitantes no país. Em 2018, o Estado teve 1.825 vítimas da violência. Dessas, mais da metade (58,4%) eram pessoas de idades 15 a 29 anos de idade. Desse total de jovens, a maioria (95%) eram homens. RN possui a segunda maior taxa de mortalidade de jovens homens, com o índice de 226,3 por 100 mil habitantes, esse número representa o dobro da taxa nacional (112,4%). 

“Esses números só me fazem relembrar e evidenciam que estamos em guerra. Estamos em um território inimigo, não há essa ideia de que somos todos iguais, que existe uma democracia e que convivemos bem com todas as raças e classes. A gente preto é enxergado como inimigo Nº 1 da sociedade e isso não é uma novidade.

– Ermeson Davi, 24 anos.

Os artigos I e III da Declaração Universal dos Direitos Humanos (1948), explicam sobre todos os seres humanos nascerem livres e iguais em dignidade e direitos, como também, que todo ser humano tem direito à vida, liberdade e segurança pessoal. A Declaração, assinada em 10 de dezembro de 1948, instituiu uma série de direitos e liberdades fundamentais, individuais e coletivas, em que, quando asseguradas, prevalece o conceito de dignidade humana.

Porém, a partir de uma análise da população brasileira, alguns desses direitos não acontecem como deveriam na sociedade. O movimento negro no Brasil tem promovido debates e elencado pautas relevantes para o combate do racismo no país. Desta forma, estimula a viabilização dos direitos humanos da população negra. Entretanto, é necessário mais, pois o Estado brasileiro precisa desenvolver políticas públicas para promover mecanismos de combate ao racismo, para reduzir dados lamentáveis relacionados às pessoas pretas no Brasil.

Ilustração de capa: Suellem Cosme.

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