Contrariando expectativas, a ONG Bahia Street sobrevive em meio à pandemia de Covid-19 e completou 25 anos no último dia 2 de fevereiro. Localizada no bairro Dois de Julho, centro de Salvador (BA), a organização tem se dedicado por todos estes anos a transformar o futuro de meninas e mulheres periféricas através da educação. Agora mais do que nunca, a ONG precisa de apoiadores.
Segundo o estudo Retrato das Desigualdades Gênero e Raça, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), “tanto mulheres negras quanto brancas que estão no mercado de trabalho têm escolaridade maior que a dos homens. Porém, isso não se reflete nos salários”. Foi a partir de uma discussão sobre como a desigualdade atinge as mulheres negras, que a Diretora Fundadora e antropóloga Rita Conceição e a também antropóloga Margareth Wilson fundaram a Bahia Street, em 1996.
O projeto nasceu com objetivo de formar lideranças de mulheres negras através do conhecimento. Portanto, através do Programa de Potencialização da Educação, essas crianças e adolescentes têm acesso a reforço escolar, cursos de artes e língua estrangeira, entre outras atividades. A ONG também conta com o Programa de Alfabetização, voltado para as meninas, que mesmo frequentando a escola, ainda não aprenderam a ler e a escrever.
Pensando nos desafios do mercado de trabalho, o projeto oferece um programa de inclusão digital. Foi dessa forma que, na pandemia, a ONG continuou atendendo essas meninas, com aulas online e doações de cestas básicas para as famílias delas e vizinhos. Mas nem todas tinham acesso à internet em casa. Então, tomando todos os cuidados recomendados pela OMS, uma vez ao mês, algumas mães ainda frequentavam a sede do projeto. Mesmo assim, houve o fechamento total, e não foi possível continuar trabalhando de forma presencial.
“Começamos as atividades em fevereiro, organizando a casa, fazendo o planejamento pedagógico. Em 15 de março (de 2020) a gente teve que fechar devido ao decreto municipal de afastamento social”, conta a diretora Rita. E complementa: “Percebemos que muitas ONGs fecharam, e quando a gente fecha, perde o elo com a sociedade. Continuamos na linha de frente e estamos por nossa própria conta. Quem tem que fazer as coisas somos nós mesmos”, declarou.
A ONG já mudou a vida de cerca de 1.500 mulheres, de diversas idades, residentes de Salvador e Região Metropolitana. Pelo empenho na formação de jovens negras na Bahia, o projeto já recebeu vários prêmios, como o The World of Children da UNICEF – Nações Unidas – NY, em 2008 e o IvyInter-American Foundation – Washington DC, em 2009. Em 2014, a Bahia Street foi a única ONG de mulheres do estado contemplada com o prêmio “Lélia González”, da Secretaria Especial de Promoção da Igualdade Racial (SEPPIR).
A chegada da vacina é um sopro de esperança para superar esse momento tão triste para a humanidade. Porém, o coronavírus vai deixar sequelas, não só físicas, como também sociais. Os mais atingidos são aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade. Pensando nos desafios pós-pandemia, Rita diz que a Bahia Street vai continuar funcionando e deve oferecer cursos profissionalizantes. “Isso é um grande legado de uma instituição baiana, sobreviver e estar voltada para o empoderamento das mulheres negras”.
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Confira na íntegra o estudo Retrato das Desigualdades Gênero e Raça do IPEA.
Foto de capa: Divulgação.
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Quando criança, sonhava em ser escritora. Hoje, é graduada em Letras e Jornalismo pela Universidade Católica de Pernambuco (UNICAP). Prêmio Neusa Maria de Jornalismo. Produtora cultural, simpática, TCC nota 10 e faz tudo.