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Café Di Preto: protagonismo negro no mundo do café

Raphael da Silva Brandão, 29 anos, ou Tijolo, como é mais conhecido nas redes sociais, é torrefador e criador do Café di Preto. O jovem, natural de Araruama, região dos Lagos do Rio de Janeiro, vem de uma família humilde e afirma que sempre foi muito curioso e inventivo. Aos 19 anos, foi aprovado no curso de Engenharia de Controle e Automação. De vendedor de brigadeiros na universidade chegou ao universo do café, trabalhando em uma micro torrefação, esse foi o caminho percorrido por Tijolo.

Foto: Arquivo Pessoal.

“O Rapha é um cara super amigo, divertido e sonhador. O Tijolo é uma persona no mundo dos games e de live streams, que é muito parecido comigo, só que é onde eu posso me soltar mais, sou bem mais caricato…”, afirma.

O Café di Preto

Chamado para trabalhar em uma empresa de café de um amigo de faculdade, assim começou a história de Raphael (Tijolo) com o café. Lá, ele começou trabalhando colando adesivos e embalando os produtos e com o passar do tempo aprendeu a torrar o café. 

“O Café Di Preto surgiu pelo fato de sempre em diversas situações ser um dos poucos pretos e até vezes de ser o único em ambientes de café, e quando pesquisei no Google sobre café e preto, só achei matérias sobre escravidão. Foi aí que pensei em criar o Café Di Preto, pra tentar dar protagonismo negro no mundo do café“, explica Raphael.

O nome foi pensado para quebrar o estereótipo racista de que tudo “di preto” é ruim ou mal feito, quando fossem falar “esse é Café Di Preto” estariam falando de algo bom.

Infelizmente, ainda nos tempos atuais, há lugares e cargos onde a presença de pessoas não brancas é incomum, há espaços que ainda não há diversidade de gênero e raça.

“Para muitas pessoas que trabalham no Café, eu sou o único torrefador negro que elas conhecem, ainda é uma profissão não tão familiarizada com os brasileiros. Depois de criar o Café, eu tive acesso a outros torrefadores negros, alguns eu consegui contato e outros simplesmente desdenharam do meu projeto.”

Você, assim como eu, deve está se perguntando o que exatamente faz um torrefador. Raphael explica pra gente: “Torrefador é o profissional responsável por torrar o café cru que vem dos produtores, e não só isso, analisar cada café, como cada um se comporta durante a torra, entender o que cada café pode oferecer e extrair o melhor dele com um perfil de torra específico.”

O café chegou ao Brasil no século XVIII, quando as mudas da planta foram cultivadas pela primeira vez, por volta de 1727. O clima e o solo de algumas regiões do país favoreceram o desenvolvimento da produção do café, produção essa que se beneficiou da estrutura escravista que havia no país naquela época. Fazendeiros e comerciantes foram os primeiros a investirem para a produção de café aqui no Brasil.

“Acho que o maior motivo de não existirem tantos torrefadores negros é o fato do mundo do café ser elitizado e nichado por pessoas brancas. As propriedades são passadas de geração em geração desde a época do Brasil Colônia e, por consequência, heranças escravocratas, e o acesso a esse nicho não chega pra gente. Eu, por exemplo, fui ter conhecimento de café especial há 3 anos. Acho que falta acesso e incentivo para pessoas pretas chegarem a esses lugares”.

Afroempreendedorismo

Empreender tornou-se o caminho para boa parte da população brasileira durante esse período de pandemia, principalmente para os jovens.

De acordo com um levantamento do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), feito exclusivamente para a CNN, se comparada com o mesmo período desde 2015, a abertura de micro e pequenas empresas no primeiro semestre de 2021 foi bem maior. Nos primeiros meses deste ano, surgiram 2,1 milhões de pequenos negócios.

“Os maiores desafios que eu enfrento no meu ramo é de não ter referências pra me espelhar, às vezes os poucos pretos que encontramos no caminho não querem gerar esse debate racial, e atualmente o maior desafio tem sido estrutural. Como a estrutura para torrar e envasar café é muito cara, e nossa parceria acabou, o Café di Preto se encontra parado. Então tem sido o maior desafio ver meu sonho estacionado.” 

Neste ano, foi feito o estudo “Afroempreendedorismo Brasil”, desenvolvido pela RD Station, Inventivos e o Movimento Black Money. Os resultados foram divulgados durante o evento Social Media Day. Realizado em maio, o levantamento ouviu pouco mais de mil pessoas e considerou 701 respostas válidas. Os resultados indicam que o afroempreendedorismo negro movimenta cerca de R$ 1,73 trilhão por ano no país e que há uma diferença de renda de 40% entre negros e brancos.

Ajude o Café di Preto

No momento, o Café di Preto infelizmente se encontra com suas atividades paradas, mas você pode contribuir para que esse projeto continue existindo e fazendo a diferença.

“Lançamos o financiamento coletivo CAFÉ DI PRETO RESISTE, que tem o objetivo de recolher fundos pro Café Di Preto se estruturar como 1ª torrefação negra do Brasil e no futuro inserir pessoas pretas no mundo do café e também em criar esse debate racial pensando em toda a problemática da estrutura”, comenta Raphael.

Foto de capa: Divulgação.

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