Como tem sido lindo poder acompanhar produções de diversos países do Continente Africano durante essa quarentena com seus dias difíceis. África do Sul, Angola, Congo, Nigéria e Zimbabué. É realmente muito significativo poder apreciar essas narrativas construídas pelos donos delas. Oportunidades como essa que o Netflix abriu para filmes da África podem mudar visões errôneas e construções equivocadas de histórias.
Dos últimos anos para cá, o catálogo do serviço de streaming tem, de fato, trazido obras da sétima arte representativas para os telespectadores negros e negras. Isso tem sido significativo e acredito que foi abrindo portas para um destino promissor para o cinema africano e suas particularidades. De início, séries e filmes de diretores norte-americanos e produzidos nos Estados Unidos, país ainda assim hegemônico com sua Hollywood. O que não perde sua importância, óbvio.
No entanto, poder chegar mais perto da África pelo seu cinema e as particularidades de cada país é realmente muito significativo. E o Netflix, por ora, proporciona isso aos seus assinantes. Seja com as séries Queen Sono (2020), uma produção de quatro países: África do Sul, Congo, Nigéria e Zimbábue, e Sangue e Água (2020), da África do Sul, como pelos longa-metragem Lionheart (2018), da Nigéria, Cook Off (2017), do Zimbábue, Santana (2020), de Angola, Solteiramente (2020), da África do Sul, e Sylvia (2018), da Nigéria. Mas a lista é ainda um pouquinho maior, felizmente. Basta procurar bem no catálogo. Tem ainda um filme sul-africano que vi recentemente e amei: Mais uma página (2017).
A cada filme de algum país africano que vejo, fico bem feliz de poder conhecer o contexto novo de algum lugar da África que eu não conhecia. Isso é realmente lindo e encantador. Não é nada menos que o Continente Africano não mereça. Um lugar enorme, com seus 54 países, seus contextos e seus modos de viver e fazer cinema. Não merece nada menos que a oportunidade de poder mostrar suas narrativas construídas com seus olhares e suas particularidades.
Porque existem inúmeras particularidades no Continente. Não dá para enumerar, de fato. São países e suas culturas com seus valores. É particular. E por ser assim, torna-se multicultural. Um continente grande e suas complexidades. Mas com muita beleza para se mostrar, para além das narrativas repletas de sangue, guerra, fome e miséria que já nos é mostrado desde cedo. Nessas produções, podemos sim encontrar outras histórias. De amor, alegria, sorrisos, força, superação, resistência, persistência, potências […]. Bem, seriam muitas palavras para dar conta dessas histórias de vida, trazidas nas produções do cinema africano.
Um cinema africano que é complexo, justamente por ter suas particularidades de cada localidade. Afinal, 54 países. E o Netflix traz alguns em seu catálogo. Vale a pena tirar um tempo do dia para assistir, digerir e refletir. Vale a pena assistir um filme produzido por atores, diretores, produtores de algum país africano. Uma ficha técnica inteira com nomes africanos. Em um primeiro olhar, nomes estranhos para nós. Diferente do que costumamos ver nos créditos finais de algum longa. Mas que humanizam vidas e individualidades do outro lado do Oceano Atlântico. E cenas que humanizam cidades e países, diferente do que sempre contaram para nós. De que só há péssimas condições de vida. E não, não há somente isso. Há muita potência de vida. Posso dizer que conhecer o cinema africano é conhecer outros olhares dentro do cinema que não é mais o olhar opressor do colonizador aqui. E que bom. E que inovador!
Vale a pena atravessar o oceano e se situar em outro universo, mesmo que seja simbolicamente por uma tela de TV, celular ou computador. Digo, da sua casa, pelo catálogo do Netflix.
Ilustração de capa: Suellem Cosme.
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Jornalista profissional (nº 4270/CE) preocupada com questões raciais, graduada pela Universidade de Fortaleza (Unifor). É Gestora de mídia e pessoas; Fundadora, Diretora Executiva (CEO) e Editora-chefe do Negrê, o primeiro portal de mídia negra nordestina do Brasil. É autora do livro-reportagem “Mutuê: relatos e vivências de racismo em Fortaleza” (2021). Em 2021, foi Coordenadora de Jornalismo da TV Unifor. Em 2022, foi indicada ao 16º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Jornalista revelação – início de carreira”. Em 2023, foi indicada ao 17º Troféu Mulher Imprensa na categoria “Região Nordeste” e finalista no Prêmio + Admirados Jornalistas Negros e Negras da Imprensa Brasileira em 2023 e 2024. Soma experiências internacionais na África do Sul, Angola, Argentina e Estados Unidos.