África Sustentável Especiais

Especial: Organizações e planos para uma Nigéria sustentável

Primeira economia do Continente Africano, segundo o Banco Mundial, a Nigéria tem uma política de sustentabilidade que não foi tratada com a devida atenção durante muitos anos. Apenas nos últimos 14 anos, o país viu a própria população aumentar em grande velocidade, o que, sem ofertas de infraestrutura adequadas, tornam não somente os serviços sociais mais precários, como também as ações de sustentabilidade.

O país, localizado na África Ocidental, é o mais populoso do Continente, com quase 210 milhões de habitantes (50,6% homens e 49,4% mulheres), de acordo com o site Country Meters*, e o sétimo do mundo. Sua capital é Abuja, mas a cidade com mais habitantes do território nigeriano é Lagos, uma das localidades com o ar mais poluído do mundo. As maiores vítimas das mortes causadas pela poluição do ar são as crianças até cinco anos de idade, segundo o estudo “O Custo da Poluição do Ar em Lagos” do Banco Mundial.

Localidade de Lagos, uma das cidades mais populosas da Nigéria. Foto: McBarth Obeya/Pexels.

A Nigéria faz fronteira com quatro países: Níger ao norte, Chade ao leste, Camarões ao leste e ao sul e Benim a oeste. Tem mais de 525 idiomas listados, mas o oficial é o inglês. As línguas nativas mais faladas são Haúça, Iorubá, Igbo, Fulfulde e Ibibio. As duas religiões com mais adeptos são o cristianismo (49,3% da população) e o islã (48,8%).

O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do país é 0,534 (baixo), o que faz a nação ocupar a posição 158 de 172 países na lista do IDH (2018). Seu Produto Interno Bruto (PIB) é US$ 1,221 trilhões e por pessoa é US$ é 6.130 (R$ 34.596,88)** com base em Paridade de Poder de Compra (PPC). Sua moeda é a Naira nigeriana. O atual presidente é Muhammadu Buhari, 77, do partido All Progressives Congress (APC) no poder desde maio de 2015.

LEIA TAMBÉM: Especial: Caminhos e alternativas para uma África do Sul sustentável

Compromisso das empresas privadas

As empresas nigerianas não entendiam que a sustentabilidade seria uma opção viável para os negócios, segundo Kenneth Amaeshi, professor de Negócios e Desenvolvimento Sustentável da Universidade de Edimburgo, no Reino Unido. “O foco da maioria das empresas tem sido a sobrevivência. Dessa forma, a busca pela sustentabilidade não é necessariamente boa para os negócios”, afirma.

O estudo realizado pela revista Management Science, denominado “O Impacto da Sustentabilidade Corporativa em Processos e Performances Organizacionais” (2014), corrobora com a fala do professor e garante que companhias que adotam a sustentabilidade entre suas políticas operacionais tendem a ser mais prósperas em questão de desempenho.

Foto: Jack Carey/Pexels.

Além disso, em entrevista ao Negrê, Amaeshi diz que as “empresas grandes têm consciência disso [sustentabilidade], mas ainda têm outras prioridades”. Mesmo assim e com poucos incentivos governamentais, adotam medidas sustentáveis. Os bancos e outras instituições financeiras, por exemplo, aprovaram os “Princípios Bancários Sustentáveis”, em 2012. Um dos objetivos desse plano é o de proteger o meio ambiente e as localidades onde operam, por meio de uma gestão de risco, tanto ambiental, quanto social.

LEIA TAMBÉM: Especial: Recursos hídricos, agricultura e alimentação em uma Moçambique sustentável

Governança pública e ONGs

Os problemas na gestão pública ao longo dos anos levaram a Nigéria a não alcançar uma série de metas para o milênio, dentre elas, o investimento em políticas sustentáveis, aponta Amaeshi. “Isso se deve à má governança e à incapacidade de muitos governos de estimular o desenvolvimento sustentável. As metas sustentáveis ​​apresentam uma nova vida, com a qual o governo do presidente Buhari [no cargo desde 2015] se comprometeu”. 

A sustentabilidade não é uma das prioridades do governo. Antes, tem a pobreza e a saúde, por exemplo”, afirma o professor. Segundo ele, são os fundos do setor privado que guiam as iniciativas de desenvolvimento sustentável no país.

Dentre as instituições nigerianas que atuam para o desenvolvimento sustentável, destacam-se o programa Lightening Africa, do Banco Mundial, e a Agência de Eletrificação Rural (Rural Eletrification Agency – REA, em inglês). O principal objetivo destas organizações é o de levar energia limpa para pessoas de baixa renda e comunidades rurais que não têm acesso à rede elétrica.

Na Nigéria, entre 2014 e 2018, 1,8 milhão de pessoas foram impactadas pelas ações do Lightening Africa e mais de 162 mil toneladas de gases do efeito estufa deixaram de ser emitidos. Já a REA contemplou mais de 457 mil nigerianos e nigerianas e gerou 5.042 empregos nos últimos dois anos.

LEIA TAMBÉM: Especial: Agricultura familiar, ações e iniciativas em uma Angola Sustentável

Juventude e sustentabilidade

O SustyVibes é outro exemplo de organização que trabalha em prol da preservação do meio ambiente. Com quatro anos de existência e liderada por jovens, a entidade desenvolve iniciativas nas cidades de Abuja, Lagos, Porto Hartcourt e Ibadan, com o objetivo de tornar a sustentabilidade mais próxima da juventude nigeriana, com inovações favoráveis às comunidades, treinamento e integração da cultura popular.

Voluntários da ação que retirou 215.543 garrafas de plástico do canal de Odogbolu em Ketu-Agboyi, Lagos, Nigéria. Foto: Reprodução/Instagram.

Jennifer Uchendu, 28, ecofeminista e fundadora do projeto, falou ao Negrê que o SustyVibes impactou na vida de mais de quatro mil jovens do país, por meio de treinamentos e conscientização acerca dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Development Goals, SDGs, na sigla em inglês). A instituição realiza limpezas nas comunidades das quatro cidades anteriormente citadas e orienta, por meio da cultura pop, sobre os problemas ambientais mais urgentes da Nigéria, como o desmatamento, a mudança climática e a poluição.

“Como ecofeminista e comunicadora sustentável, trabalho para incluir também as questões das mulheres, empoderamento e desenvolvimento no trabalho do SustyVibes. Por exemplo, treinamos dez garotas em documentário fotográfico para capacitá-las a se tornarem fotojornalistas ambientais independentes”, explica Jennifer.

Jovens que participaram de capacitação em fundamentos para iniciar um negócio de reciclagem, em Lagos. Foto: Reprodução/Instagram.

As práticas voltadas à preservação ambiental entre a própria população são relativamente recentes na Nigéria, segundo o professor Kenneth Amaeshi, e ainda não são reconhecidas com o nome de sustentabilidade. “Já existe o costume da reciclagem, mas não é chamado assim [de sustentabilidade]”, observa.

É justamente na conscientização a respeito da ideia e das ações de desenvolvimento sustentável que o SustyVibes atua. “Essa é uma forma alternativa de desenvolvimento que assegura que países cresçam sem destruir o meio ambiente e que todas as pessoas possam prosperar e crescer”, aponta Jennifer. A partir disso, a economia circular (que abrange os quatro Rs: redução, reutilização, recuperação e reciclagem) é a opção mais viável para que haja um crescimento conjunto de população e país.

Na Nigéria, tanto as pessoas mais jovens quanto o setor privado têm tomado à frente na condução da reciclagem. No final de 2018, os governos estaduais começaram a investigar maneiras de ampliar e dar suporte ao trabalho dessas pequenas e médias empresas de reciclagem. Eu acredito que é assim que podemos começar a agir quanto às mudanças climáticas – trabalhando juntos, como ambientalistas, empresários e governantes. Nós trabalhamos para não deixar ninguém para trás, enquanto garantimos que as pessoas e o planeta vão prosperar ao mesmo tempo”, finaliza.

LEIA TAMBÉM: Especial: Alimentação e turismo ecológico em um Marrocos sustentável

Planos para o desenvolvimento sustentável no país

Lideranças mundiais, incluindo da Nigéria, se reuniram em setembro de 2015 na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, para assinar a “Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável”, que traçou 17 objetivos voltados para o desenvolvimento social, aliados a estratégias de sustentabilidade. Dentre os objetivos, estão a possibilidade de utilização de energia barata e limpa, cidades e comunidades sustentáveis e consumo e produção responsáveis.

Já em julho deste ano, o Comitê de Sustentabilidade Econômica apresentou um plano para enfrentar os desafios trazidos pela pandemia da Covid-19, que inclui entre as metas a instalação de Sistemas Solares Domésticos (Solar Home Systems – SHS, em inglês) para cerca de cinco milhões de famílias que não estão conectadas à rede nacional de energia. Com isso, a expectativa é de que sejam gerados mais de 250 mil empregos entre a população local. Além do foco em energia solar, o Plano Econômico de Desenvolvimento Sustentável aposta em cortar gastos com combustíveis fósseis, os mais poluidores do mundo.

Painéis de energia solar. Foto: Pixa Bay/Pexels.

A fonte de energia renovável mais utilizada na Nigéria é a solar, mas Amaeshi pondera alguns desafios a serem enfrentados. “Há um custo alto para mudar da energia convencional para a solar, assim como para se manter fazendo uso dela”. Para ele, além desse aspecto, a falta de infraestrutura oferecida pelo governo é um problema no que diz respeito a uma maior adoção da energia solar. Apesar disso, “[a medida citada no Plano de Sustentabilidade Econômica] é um bom ponto de partida”, opina.

*Fonte: United Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais das Nações
**Conversão: Aplicativo Xe Moeda feita no dia 02/10/2020 às 1h25

Nos próximos dias, não deixe de acompanhar a primeira série de reportagens do Negrê, o especial África Sustentável!

Ilustração de capa: Suellem Cosme.

LEIA TAMBÉM: Especial: Agricultura familiar, ações e iniciativas em uma Angola Sustentável

Inscreva-se na newsletter do Negrê aqui!

Compartilhe: