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Os algoritmos racistas e a certeza: “tudo que nóis tem é nóis”

Vivemos numa sociedade cheia de preconceitos. Racismo, homofobia, lesbofobia, transfobia, gordofobia e machismo, são praticados no nosso cotidiano. Não seria diferente nas redes sociais. As mesmas pessoas que praticam todo tipo de preconceito fora das redes, também vão praticar dentro delas, às vezes de maneira mais agressiva, já que a internet traz uma sensação de ser um lugar sem leis. 

Os algoritmos seguem essa lógica preconceituosa. Recentemente, foi constatado que o algoritmo do Twitter tem preferência em evidenciar pessoas brancas em imagens em conjunto com pessoas pretas, independente da localização dessas pessoas brancas na imagem, o destaque sempre vai pra elas. 

No instagram não é diferente. A digital influencer Sá Ollebar, resolveu fazer um experimento em seu perfil na rede,  ao perceber que mesmo tendo um perfil relativamente grande, era perceptível uma queda no alcance do seu conteúdo. Ela decidiu então postar fotos de mulheres brancas, para analisar se mudaria em algo o seu alcance. Houve um aumento assustador de 6000%.

Se fizermos uma breve pesquisa na internet, notaremos que os influenciadores mais seguidos no Instagram, no qual a imagem é um fator importante, são pessoas brancas e magras. Isso revela não só como há determinados grupos que são mais facilmente atacados nas redes sociais, como as pessoas desses grupos sentem dificuldade em crescer e ganhar visibilidade nessas mesmas redes.  

Não tão incomum também, são as denúncias que fotos com pessoas fora do padrão estético imposto por essa sociedade (leia aqui: pessoas pretas e gordas) recebem nas redes sociais, algumas chegam a ser retiradas da rede. Foi o que aconteceu com a influenciadora britânica Nyome Nicholas-Williams, ao compartilhar uma foto sua em seu Instagram, no dia 29 de julho de 2020. Na foto, Nyome está com a parte superior do corpo sem roupa, entretanto, cobrindo seus seios com suas mãos e com um buquê de flores. Ainda assim, sua publicação foi removida no dia seguinte, a plataforma alegou que a imagem desrespeitava as normas de nudez. 

Não é tão difícil achar postagens explícitas no Instagram, ainda mais aquelas que não tem nenhum contexto. São só publicações de pessoas exibindo seus corpos. Até aí tudo bem, todo mundo tem direito de fazer com o seu espaço virtual o que quiser. A grande questão é quem pode fazer o quê. Nyome, que também é modelo plus size, criticou a diferença no tratamento com outras mulheres. Foi a partir disso que ela decidiu criar uma campanha online, com a hashtag #iwanttoseenyome. A modelo conseguiu mais de 20 mil assinaturas em seu abaixo assinado. O que contribuiu para que o Instagram mudasse a sua política.

Em outubro de 2020, a plataforma colocou em vigor a nova política para fotos relacionadas à nudez e pornografia, numa tentativa de que fotos com corpos gordos não sejam removidas erroneamente. 

Ser uma pessoa que foge dos padrões é um tanto quanto difícil. Existir num corpo que foge dos padrões é um grande desafio. A gente precisa driblar diariamente uma série de questões, para no fim, ainda assim, tentar conquistar alguns espaços. 

Mais do que fazer uma crítica aos algoritmos racistas, embora seja extremamente necessário, mas talvez eles nunca mudem, infelizmente. Eu quero propor uma reflexão para nós mesmos. Qual a diversidade de conteúdo e de produtores de conteúdo que você acessa e segue nas redes sociais? Com qual frequência você compartilha ou comenta naquele conteúdo que você gostou, que te fez aprender algo? 

Talvez de maneira não racional, a gente acaba agindo de uma forma que reforça esse racismo algorítmico (não tô dizendo que é nossa culpa). O que eu digo é que é muito comum a gente postar quando estamos indignados com algo, o que é normal também. Mas para pra analisar, quantas dessas pessoas que falaram ou fizeram coisas bizarras na internet, que viralizaram por receber muitas críticas, tiveram um impacto negativo?

A gente não precisa gostar de todo conteúdo e de todos os produtores de conteúdo. Mas diante da realidade que vivemos, todo apoio ao produtor ou à produtora de conteúdo que você gosta, pode fazer diferença. 

Eu sempre gosto de lembrar o que Emicida diz na música “Principia”: “Tudo, tudo, tudo, tudo que nóis tem é nóis”. Esquece disso não!

Foto de capa: Antonio Batinić/Pexels.

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