África Sustentável Especiais

Especial: Recursos hídricos, agricultura e alimentação em uma Moçambique sustentável

A redação do site Negrê atravessou o Oceano Atlântico (sem sair do Nordeste brasileiro – pois ainda estamos em isolamento social devido à pandemia do Covid-19) para realizar a primeira série de reportagens, o especial África Sustentável. Damos continuidade ao percurso pelo Continente Africano, abordando agora a República de Moçambique e ampliando olhares para um continente rico de recursos e histórias. 

Moçambique se localiza na região Sudeste do Continente Africano e faz fronteira com a Tanzânia, Malawi, Zâmbia, Zimbábue, África do Sul e com Essuatíni. A população total é de 29,05 milhões de habitantes, de acordo com o Censo de 2017. A capital é Maputo, com 1.178.116 habitantes, e é a cidade mais populosa do país, seguida por Matola e Beira.

Maputo, capital de Moçambique. Foto: Shelio Mutimba.

O país também conta com 43 línguas documentadas, dessas 41 são línguas tradicionais bantu e as outras são o português e língua de sinais. A área do Moçambique é de 801.590 quilômetros quadrados e é o 34º maior país do mundo. O Produto Interno Bruto (PIB), com base na Paridade do Poder de Compra (PPC), é de US$ 1.243,00 (R$ 7.001)*. Sua moeda é o Metical moçambicano. O atual presidente é Filipe Nyusi (FRELIMO), 61, desde 2014. 

País de abundância de recursos naturais, Moçambique tem economia enraizada na agricultura com recursos de gás natural, solo arável, água e energia em abundância. Além disso, os setores de indústria, turismo e de exploração do petróleo estão em constante desenvolvimento.  

Localidade de Maputo, capital de Moçambique. Foto: Shelio Mutimba.

Moçambique também possui relações de parceria com o principal posto econômico da região, a África do Sul, e relações prósperas com os países adjacentes. O desenvolvimento econômico do país tinha previsões de aumento em relação ao ano de 2019, com o avanço do setor de construção e boas políticas econômicas devido à destruição causada pelos ciclones Idai (2008) e Kenneth (2019). Isso segundo a consultoria britânica Economist Intelligence Unit (EIU).

Com a debilidade econômica sofrida mundialmente pela pandemia do Covid-19, Moçambique agora pôs em prática medidas mitigatórias e de sustentabilidade. Amparo social à população, maiores investimentos em saúde pública e ajudas de custo às pequenas e médias empresas com o suporte do Fundo Monetário Internacional (FMI). Foram algumas das medidas adotadas e, além disso, programas de manejo sustentável de recursos naturais e formação agrícola para moradores da zona rural foram implementados com o suporte do Banco Mundial, significando maior quantidade de alimentos de plantio para venda. 

Prédios de Maputo, capital de Moçambique. Foto: Shelio Mutimba.

Recentemente, o país também finalizou a recuperação de manguezais destruídos pelo ciclone Eline (2000), como parte do Programa Mares Regionais do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA). O projeto também contribui com as metas do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável, comprometimento do país em proteger seus ecossistemas marinhos e costeiros. 

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Atlântida Africana

88% das pessoas nas áreas urbanas de Moçambique possuem acesso a fontes de água com tratamento melhorado, segundo o site do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF). Durante o período de pandemia, o governo moçambicano suspendeu dívidas e custos de consumo de água para a população rural do país, conforme comunicado do ministro das Obras, Habitação e Recursos Hídricos, João Machatine. Com a costa banhada pelo Oceano Índico e uma grande quantidade de bacias hidrográficas, o Moçambique possui economia enraizada também na pesca e aquacultura.

Em entrevista para o Negrê, o engenheiro civil Catine Chimene, doutor em Recursos Hídricos e moçambicano, tratou dessas questões. “Não acredito que haverá problemas com recursos hídricos no Moçambique até o próximo século, pois temos mais de 100 bacias hidrográficas. Grande parte dos rios nascem aqui e são internacionais, como o rio Zambeze, que abrange cerca de 10 ou 12 países”. 

O rio Zambeze tem sua foz no Canal do Moçambique, e tem um total de 2.750 quilômetros de comprimento. O rio transpõe Zâmbia, Angola, Namíbia, Botswana e Zimbábue, além de compor em seu curso as Cataratas de Vitória no Zambeze, as maiores do mundo e declaradas patrimônio natural da humanidade pela UNESCO em 1989. 

“Temos problemas com períodos de escassez de chuva, já que é fonte de abastecimento de grande parte dos rios. Mas na capital (Maputo), apesar da alta demanda de água e a escassez de chuvas, a gestão tem sido boa. Creio de 80% da população moçambicana tenha acesso a água”, disse Catine. O moçambicano pontua que quanto ao tratamento, varia de cidade em cidade. “Temos aqui água de aquíferos subterrâneos e águas superficiais, de rios e lagos. Dependendo do consumo, o tratamento é diferente. […] A grande diferença do Moçambique é que temos uma grande quantidade de recursos hídricos em relação aos outros países africanos”. 

Foram registrados 24 grandes rios no Moçambique, além de lagos e canais hidrográficos, o maior sendo o Canal do Moçambique, localizado entre o país e a ilha de Madagascar. O Canal do Moçambique tem cerca de 1.600 quilômetros de comprimento e 419 quilômetros de diâmetro. 

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Alimentação e Sustentabilidade

Falar em recursos hídricos é, também, falar de agricultura de subsistência. Em Moçambique, além da caça furtiva, a exploração agrícola é fonte de renda para grande parte da população. A construção dos costumes culinários de Moçambique é, também, uma história de ancestralidades. A alimentação dos bantus, grupo étnico que compõe grande parte da população, era baseada fortemente em cereais, legumes, batata doce, inhame, e uma grande variedade de vegetais.

Com a invasão portuguesa houve a inserção do queijo, do bife e do vinho na alimentação moçambicana, fator usado até mesmo para diferenciação racial. Apesar disso, boa parte da culinária moçambicana é baseada em produtos da roça, tais pratos, como a matapa, prato feito com folha de mandioca pilada com leite de coco e amendoim pilado, e a xiguinha com mandioca, feijão nhemba e leite de coco. 

O modelo e produtor de conteúdo Elton Mashani, vegetariano, conversou com o Negrê. “A dieta vegetariana é acessível, pois Moçambique tem uma agricultura muito vasta e diversa tanto em legumes e vegetais como em frutas, o que permite que qualquer classe consiga consumir estes produtos. Tanto que grande parte da nossa agricultura é doméstica”, disse. No entanto, o consumo de alimentos veganos é limitado pelo preço dos produtos industrializados.

O modelo moçambicano Elton Mashani. Foto: Arquivo Pessoal.

“Quanto à vegana, é um pouco mais difícil pois quando se trata de produtos veganos industrializados estes são importados, e quando chegam aqui têm um preço não muito acessível”. Apenas um restaurante em Maputo é direcionado para a dieta vegana, conforme o aplicativo Happy Cow – usado para encontrar estabelecimentos com culinária vegana ou vegetariana. 

*Conversão: Aplicativo Xe Moeda feita no dia 29/09/2020 às 23h59

Nos próximos dias, não deixe de acompanhar a primeira série de reportagens do Negrê, o especial África Sustentável!

Ilustração de capa: Suellem Cosme.

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