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M-8: não somos só um corpo, nós temos história

M8 – Quando a morte socorre a vida (2020) dividiu opiniões nas redes sociais. O drama chegou na Netflix no último dia 24 de fevereiro. O longa-metragem tem direção de Jeferson De, e conta com Juan Paiva, 22, Raphael Logam, 35, Mariana Nunes, 40, Zezé Motta, 76, entre outros, no elenco. Para alguns internautas, os temas debatidos no filme poderiam ser mais aprofundados; há quem chegou a achar tudo um tanto quanto raso. Para outros, o filme conseguiu levantar debates interessantes e importantes.

O longa conta a história de Maurício, um jovem estudante de Medicina, cotista de uma Universidade Federal. Logo no início do filme, a gente já percebe que as outras pessoas que têm o mesmo tom de pele de Maurício, não estão entre os seus colegas, mas sim entre os corpos deitados nas macas para serem estudados. E que não por coincidência, o jovem é confundido por um colega de turma com um funcionário da instituição. A realidade é que negros ainda são minorias em cursos como Medicina. 

Foto: Reprodução/Netflix.

Retratando a vida de um jovem, morador de periferia e criado somente pela mãe, uma mulher negra, a diferença social entre Maurício e seus colegas de turma também é abordada. Enquanto os outros têm os seus transportes particulares, Maurício anda de transporte público.

Contexto social

E é esse abismo social que faz com o que o jovem comece a perceber algumas verdades. Maurício começa a ter pesadelos onde ele se vê deitado e sem vida. Ao mesmo tempo que nas aulas de anatomia começa a ter um diferente contato com um dos corpos estudados, o M8. E começa a questionar sobre esses corpos, corpos que se assemelham com o dele

Violência policial, relações afetuosas nas comunidades, racismo, genocídio da população preta, ancestralidade e religiosidade são outros temas debatidos no filme. 

Pra mim, a grande discussão do filme é sobre o desaparecimento de jovens negros e a busca incessante de mães negras por uma resposta. A busca de Maurício parte de um encontro com mães que se reúnem em locais públicos, com cartazes e fotos dos seus filhos. Tema que não se prende à ficção. Atualmente, nós temos o caso de três crianças pretas que desapareceram em Belford Roxo, no Rio de Janeiro, em dezembro de 2020, e até o presente momento, as famílias não obtiveram nenhuma resposta do que aconteceu. 

Foto: Vantoen Pereira/Divulgação.

O respeito à ancestralidade e religiosidade é outro ponto importante. Corpos negros não são corpos vazios sem história ou sem família. Nossas crenças devem ser respeitadas, estejamos vivos ou mortos.

Confesso que concordo que algumas questões poderiam ser mais aprofundadas. Uma cena que me incomodou e acho que poderia não ter no filme, foi a da violência policial. Não por não retratar uma realidade, mas achei um pouco vazia. Outro incômodo que senti foi a forma com que alguns personagens negros, principalmente os de serviço doméstico, tratavam Maurício. Eu compreendo que algumas pessoas pretas ainda reproduzem muitas falas e comportamentos racistas, mas no filme, a forma um tanto quanto desumana com que essas pessoas trataram ele, me gerou bastante incômodo.

Por fim, pelo elenco maravilhoso, por levantar algumas discussões necessárias, vale muito a pena assistir o filme e fortalecer o cinema brasileiro, ainda mais quando feito por tantas pessoas pretas, o que infelizmente, ainda é incomum.

Confira o trailer:

Ficha técnica

M8 – Quando a morte socorre a vida
Ano:
 2020
País de origem: Brasil
Gênero: Drama/Suspense
Duração: 148 min
Direção: Jeferson De
Elenco:  Juan Paiva, Raphael Logam, Henri Pagnoncelli, Fabio Beltrão, Giulia Gayoso, Mariana Nunes, Tatiana Tiburcio e Zezé Motta
Produção: Iafa Beatriz
Disponível: Netflix

Foto de capa: Reprodução/Netflix.

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