Particularmente, adoro uma cinebiografia. Logo, toda vez que algo novo é lançado, se torna quase uma obrigação assistir. Não foi diferente quando ouvi os primeiros burburinhos sobre o lançamento do filme A Voz Suprema do Blues (2020), estrelado por ninguém menos que Viola Davis (How to Get Away With Murder), eleita uma das maiores atrizes do século pelo jornal norte-americano The New York Times.
No longa-metragem de 94 minutos, Viola interpreta Ma Rainey, uma das mais potentes e importantes vozes do blues, mas que, por ser mulher, não teve/tem seu nome tão mencionado historicamente, como Robert Johnson ou Muddy Waters, por exemplo. Ainda assim, Ma Rainey é considerada a mãe do blues. Inovou em uma época em que as mulheres, especialmente negras, tinham pouco ou nenhum espaço. Ma Rainey sempre foi considerada uma mulher de gênio difícil, e sua vida considerada uma grande bagunça, por ser bissexual assumida.
Viola Davis, como sempre, dá um show de interpretação, e a caracterização a coloca idêntica a personagem que interpreta. Dos cabelos às joias e dentes de ouro, corpo e maquiagem. É a própria Ma Rainey encarnada.
Sua atuação é tão convincente, que ela concorre ao prêmio de Melhor Atriz de Filme de Drama no Globo de Ouro, que ocorre no próximo dia 28 de fevereiro. Em um dos monólogos mais brilhantes do filme, Viola justifica o gênio difícil de Ma Rainey, que compreendia o poder de sua voz e a posição social e política em que se encontrava, mas sabia que o respeito que os brancos demonstravam por ela era uma imposição à necessidade que tinham de lucrar com seu dom. E ela diz: “Os brancos só querem minha voz. Já aprendi a lição. Vão me tratar como quero ser tratada, não importa o quanto isso doa… Assim que conseguirem minha voz em uma de suas máquinas, eu viro uma qualquer, em que podem pisar em cima”.
O principal cenário do filme é o estúdio musical onde Ma Rainey e sua banda estão reunidos para gravar um novo disco. Tanto o dono do estúdio, Mel Sturdyvant (Jonny Coyne), quanto o agente da cantora, Irvin (Jeremy Shamos), são homens brancos. Ela faz o possível para que eles a sirvam da melhor maneira possível até finalizar a gravação.
No estúdio, ela faz exigências das mais variadas, desde pedir Coca-Cola e lanches, até empregar seu sobrinho gago, Sylvester (Dusan Brown), como membro da banda para realizar a abertura do disco. Ela entende realmente o que precisa fazer antes de entregar seu bem mais precioso para ser comercializado.
Ma Rainey é uma mulher bissexual e leva sua protegida, Dussie Mae (Taylour Paige), para o estúdio. No entanto, a jovem não é dedicada apenas à cantora e está com ela apenas pelo conforto e riqueza que lhe são oferecidos. Por isso, se envolve com o músico Levee Green (Chadwick Boseman), que promete ficar rico e dar a ela o mesmo conforto que Ma Rainey oferece.
Levee é um sonhador ousado e ambicioso. Ele bate de frente com Ma Rainey por acreditar que sua música é melhor que a dela e acredita que Mel, o dono do estúdio , dará a ele uma chance de gravar um disco com músicas autorais. Mas, no fim, como aconteceu com Solomon Linda, Levee também foi enganado.
Além da história de Ma Rainey, o filme foca na trajetória de Levee, personagem fictício que carrega vários dramas criados pelo racismo, pela opressão e pela segregação racial dos Estados Unidos.
Chadwick Boseman, que faleceu em 2020, está tão fantástico no longa, que também concorre ao prêmio de Melhor Ator em Filme de Drama no Globo de Ouro. Ele também concorre no SAG Awards 2021, o prêmio do Sindicato dos Atores dos Estados Unidos, como Melhor Ator em ‘A Voz Suprema do Blues’, e Melhor Ator Coadjuvante como Stormin’ Norman em Destacamento Blood (2020).
A Voz Suprema do Blues foi a última obra gravada pelo ator, enquanto ainda estava doente. Sem dúvidas, também é uma das atuações mais incríveis com monólogos duros de ouvir, mas que o ator interpreta de maneira sensíve e intensa.
O filme é a adaptação da peça “Ma Rainey1s Black Bottom”, de August Wilson na década de 1980.
Confira o trailer:
Ficha técnica
A Voz Suprema do Blues
Ano: 2020
País de origem: Estados Unidos
Gênero: Drama/Musical
Duração: 154 min
Classificação indicativa: 14 anos
Direção: George C. Wolfe
Elenco: Viola Davis, Chadwick Boseman, Colman Domingo, Glynn Turman, Jeremy Shamos, Taylour Paige, Jonny Coyne, Michael Potts, Dusan Brown e Joshua Harto
Roteiro: Ruben Santiago-Hudson
Autor da obra original: August Wilson
Produção: Denzel Washington e Todd Black
Disponível: Netflix
Foto de capa: Divulgação/Netflix.
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Formada em Jornalismo e com especialização em mídias digitais, a baiana tem dedicado sua carreira ao mercado audiovisual há oito anos, quando iniciou na área. Já atuou como produtora executiva em obras para a televisão e em diversas funções dentro da produção de uma obra. Apaixonada por filmes e séries, se considera uma viciada que assiste mais de seis obras por semana.